Elana inspirou fundo, tentando recuperar o controle. Ela não podia se permitir desmoronar completamente. Já tinha chorado demais. Passou as mãos pelo rosto, secando as lágrimas, e endireitou os ombros. Precisava sair dali. Precisava ir para um lugar onde ainda houvesse um resquício de segurança, onde não se sentisse tão perdida e sozinha.
Ligou o carro e saiu do estacionamento com as mãos firmes no volante, mas seu coração ainda estava em pedaços. A cidade passava por ela em flashes borrados pelas lágrimas remanescentes, e cada semáforo parecia um lembrete cruel de que sua vida estava em pausa, parada no momento exato em que descobriu a traição.
Quando finalmente chegou ao prédio de Isabella, estacionou sem se preocupar se estava alinhada corretamente. Saiu do carro, pegou sua mala e atravessou o pequeno jardim que levava à entrada. Seus passos estavam pesados, e o cansaço emocional ameaçava derrubá-la a qualquer momento.
Apertou a campainha e esperou, o coração batendo forte contra o peito. O tempo pareceu se arrastar até que, finalmente, a porta se abriu.
Isabella estava descalça, vestindo um moletom largo e com os cabelos bagunçados, como se tivesse acabado de sair do sofá. Seus olhos encontraram os de Elana, e em um instante, seu semblante mudou.
— O que aquele canalha aprontou? — perguntou, abrindo os braços sem hesitação.
Elana não respondeu. Apenas deixou a mala cair ao lado dos pés e se afundou no abraço da amiga, finalmente permitindo que seu coração quebrado encontrasse um pouco de conforto.
[...]
Elana soluçava no sofá de Isabella, os braços ao redor do próprio corpo como se tentasse se manter inteira. A amiga estava ajoelhada ao seu lado, segurando sua mão com firmeza, esperando pacientemente que ela encontrasse forças para falar.
— Eu... eu não fazia ideia — a voz de Elana saiu engasgada, entrecortada pelo choro. — Ele sempre dizia que me amava, que só estava esperando o momento certo para termos um filho... — Ela soltou uma risada amarga, balançando a cabeça. — Mas a verdade é que ele nunca quis isso comigo. Com outra mulher, sim. Comigo, nunca.
Isabella apertou ainda mais sua mão, os olhos brilhando de raiva e compaixão.
— Como você descobriu? — perguntou suavemente.
Elana engoliu em seco, sentindo um nó apertar sua garganta.
— Eu peguei o celular dele para procurar um endereço. Ele deixou em cima da mesa enquanto tomava banho. Não era algo que eu costumava fazer, nunca desconfiei dele... — Ela parou por um instante, inspirando fundo. — Mas então, uma notificação apareceu. Uma mensagem. “Mal posso esperar para te ver de novo.”
Isabella arregalou os olhos.
— Filho da puta...
Elana soltou um riso trêmulo, sem qualquer traço de humor.
— Meu coração gelou. Naquele instante, tudo dentro de mim gritou que algo estava errado. Eu abri a conversa e ali estavam as fotos... dele e dela, juntos. Abraçados. Beijando-se. E depois... — Sua voz falhou. — Depois, a ultrassonografia. O filho que ele nunca quis ter comigo, mas vai ter com outra.
Um silêncio pesado caiu sobre as duas. Isabella passou a mão pelo rosto, claramente indignada.
— Eu juro, Elana, se esse desgraçado aparecer na minha frente, eu acabo com ele.
Elana apenas fechou os olhos, permitindo-se sentir por um momento toda a dor que carregava no peito.
— Não vale a pena. — ela diz, após alguns minutos em silêncio. — Michael destruiu a minha vida inteira. E agora eu não tenho nada. Nada além de um carro usado.
Isabella encara a amiga de lado, a língua coçando para dizer algumas verdades. Mas não era hora daquilo.
— Vamos ver por outro lado. — Isabella fala, se sentando ao lado de Elana. — Você dizia que era o pessimismo de Michael que não deixava as editoras gostarem dos seus livros. Agora sem ele, irá fluir. Você será a próxima best-seller desse país... do país não, do mundo!
Elana fungou, um sorriso fraco e incrédulo escapando de seus lábios.
— Ah, claro. Vou me tornar uma escritora de sucesso, rica e poderosa, e ele vai se arrepender amargamente de tudo.
Isabella ergueu as sobrancelhas.
— Exatamente! O que melhor para dar um belo chute na bunda dele do que você vencendo na vida enquanto ele troca fraldas?
Elana balançou a cabeça, inspirando fundo.
— Tudo isso é muito fácil no papel, Isa, mas na prática... eu não tenho emprego, não tenho casa, não tenho um plano...
O telefone de Elana começou a tocar. “Número privado” piscava no visor. Elana não atendia ligação não identificadas, então ela ignora a ligação.
Isabella se levantou e apontou ao redor.
— Você tem onde ficar. Essa casa também é sua pelo tempo que precisar. E, quanto ao resto, vamos dar um jeito. Você não precisa ter todas as respostas agora.