Matheus saiu mais cedo naquela manhã. Ainda com o cabelo molhado e a gravata torta, me deu um beijo na testa e sussurrou:
— Hoje tem reunião com o novo diretor. Torce por mim.
— Sempre.
Fiquei observando ele sair pela porta com aquela pressa desajeitada que só ele tinha, o sorriso nervoso que tentava esconder. Parecia um garoto se preparando para o primeiro dia de aula — orgulhoso, ansioso, e querendo impressionar.
Passadas algumas horas, eu ainda estava entre almofadas e amostras de tinta, tentando decidir entre “azul céu claro” e “azul lua fria” para o quarto do bebê, quando meu celular vibrou.
Matheus
“Vou sair um pouco mais tarde hoje. Depois te explico.”
Algo no tom da mensagem me fez parar. Não era incomum ele se atrasar, mas havia um peso escondido entre as palavras curtas. Resolvi esperar.
***
Quando ele chegou, já estava escuro.
— Oi — disse, jogando a mochila num canto e afrouxando a gravata. Seus olhos evitaram os meus.
— Como foi?
— Cansativo. — Ele deu um meio sorriso. —