Valentina Duarte
Acordei em pleno sábado com o coração acelerado. A primeira coisa que fiz foi abrir as redes sociais — um vício e, ao mesmo tempo, um termômetro do meu desespero. E lá estava ele. Davi Montez. De volta ao Brasil.
Aquilo reacendeu em mim a centelha de esperança que eu não conseguia apagar, por mais que ele não respondesse minhas mensagens, nem atendesse minhas ligações. Não me importava. Ele estava aqui. E eu precisava vê-lo. Precisava tentar uma última vez.
Me arrumei com pressa, coloquei meu vestido azul favorito — o mesmo que ele elogiou na nossa primeira viagem —, prendi o cabelo de forma elegante e saí determinada para a empresa.
Quando cheguei, o segurança tentou me impedir de subir. Argumentei, forcei, insisti… até que as portas do elevador se abriram e lá estava ele.
Davi Montez. E Helena.
Juntos. Rindo.
O mundo girou.
— O que vocês estão fazendo juntos? — perguntei sem conseguir esconder o tom de incredulidade e dor na minha voz.
Helena deu um passo à frente, surpresa e tensa ao mesmo tempo.
— Valentina, o que está fazendo aqui?
Soltei um riso nervoso e respondi, tentando manter a pose, mesmo com o sangue fervendo.
— A pergunta é o que você está fazendo aqui, Helena.
Ela cruzou os braços e disse com firmeza:
— Eu estou no meu trabalho. Se a mamãe que mandou você aqui, pode dizer pra ela parar com isso.
— Eu vim aqui pra conversar com o meu namorado. — enfatizei, olhando diretamente para Davi.
Ele respirou fundo, e me olhou com aquela expressão fria que me matava um pouco mais a cada vez.
— Não, Valentina. Já falei. Não sou mais seu namorado. Nós terminamos. Há dois meses.
Aquilo cortou meu coração de novo, como uma navalha reabrindo uma ferida mal cicatrizada.
Helena, surpresa com a revelação, se virou para ele com um olhar incrédulo.
— Quer dizer que ela é sua ex-namorada? Interesseira?
Antes que Davi pudesse responder, questionei com ironia:
— E você é o quê dele agora?
Helena levantou o queixo com firmeza.
— Eu sou irmã dessa daí.
— Dessa daí, não, Valentina. Mais respeito comigo que eu não te dei ousadia. — ela disse, firme.
Revirei os olhos, sentindo a raiva explodir.
— Cala a boca, Helena!
Me virei para Davi, meu olhar suplicante.
— Davi, meu amor… você não pode acabar nosso relacionamento assim. Eu te amo, e você sabe disso. A gente tem uma história! Você prometeu... você me prometeu coisas!
Ele me olhou por alguns segundos longos. O silêncio dele doía mais que qualquer palavra. Até que, com calma, disse:
— Valentina, não é só sobre promessas. É sobre respeito, parceria, verdade. E tudo isso você quebrou.
Helena permaneceu em silêncio, mas seu olhar dizia tudo. E pela primeira vez, senti que ela tinha algo que eu nunca ofereci: autenticidade.
E nesse momento, ali na entrada da empresa, percebi que a história que eu queria resgatar… já tinha acabado. E outra estava começando — sem mim.
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Helena Duarte
Sábado era para ser nosso primeiro dia de folga desde a chegada ao Brasil, e confesso que eu estava animada para passar o dia descansando, talvez assistir a um filme ou terminar de organizar algumas coisas em casa. Mas os planos mudaram assim que Davi recebeu uma ligação: um dos possíveis acionistas da empresa estava de passagem pela cidade e queria uma reunião informal. Nada de tão sério, apenas um café e uma conversa, mas Davi fez questão de que eu o acompanhasse.
Concordei, afinal, era uma oportunidade importante. Me vesti com algo mais sóbrio, ainda assim elegante, e seguimos juntos para a empresa. Assim que entramos no prédio, percebi um burburinho estranho na recepção, e logo vi a recepcionista tentando conter alguém que discutia acaloradamente. Meu coração quase parou quando reconheci a voz e, ao nos aproximarmos, a cena se desenrolou com um tapa de realidade.
— O que vocês estão fazendo juntos? — a voz de Valentina soou indignada, carregada de acusação. Ela estava ali, no saguão da empresa, com a maquiagem impecável e a arrogância costumeira no olhar.
— Valentina, o que está fazendo aqui? — perguntei, com mais surpresa do que julgamento. Ainda assim, um nó se formou na minha garganta.
— O que você tá fazendo aqui, Helena? — ela rebateu, como se eu estivesse fora do meu lugar.
— Eu estou no meu trabalho. Se a mamãe que mandou você aqui, pode falar pra ela parar com isso, falei, respirando fundo para manter a compostura.
— Eu vim aqui para conversar com o meu namorado, ela disse, caminhando até Davi com aquele sorriso falso de sempre.
Davi foi direto, sem hesitar:
— Não. Namorado, não, Valentina. Nós terminamos. Já tem dois meses.
Naquele momento, senti o chão sair dos pés. Não pela confissão de Davi, mas por aquilo tudo se desenrolar bem na minha frente, como um teatro tragicômico do qual eu fazia parte. E pior: eu descobria, ali, naquele instante, que a ex interesseira da qual ele havia falado antes... era minha irmã.
— Quer dizer que ela é sua namorada interesseira? — perguntei, em choque, ainda assimilando tudo.
— E ela é o quê sua? — Davi perguntou, confuso.
— Eu sou irmã dessa daí, respondi amarga, apontando para Valentina.
Ela soltou um riso debochado.
— Dessa daí não, Valentina. Mais respeito comigo que eu não te dei ousadias, tentei manter minha postura.
Mas ela me interrompeu, descontrolada:
— Cala a boca, Helena! Davi, meu amor, você não pode acabar nosso relacionamento assim...
Davi deu um passo para trás, visivelmente desconfortável com a situação. Eu sentia meu rosto queimar, e não era de vergonha, era de uma mistura de indignação e pena.
Pena por ela. Porque, apesar de tudo, Valentina era minha irmã. Crescemos sob o mesmo teto, aprendemos as mesmas coisas — pelo menos até certo ponto. Mas ela havia escolhido seguir um caminho diferente, se iludindo com o brilho do dinheiro. Ela não amava Davi. Ela amava o que ele representava: poder, status, prestígio.
Eu, por outro lado, via Davi além disso. Via seu jeito atencioso, suas piadas fora de hora, o modo como ele me olhava quando achava que eu não estava percebendo. E era exatamente isso que a incomodava. Porque, no fim das contas, ela sabia que eu via nele o que ela nunca quis enxergar: o homem por trás do empresário.
Fiquei ali, em silêncio, observando o embate se desenrolar. Naquele momento, percebi que não havia mais espaço para o passado entre eles — nem para ela entre nós dois.
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