Ruan Duarte
Existe um tipo de medo que não grita. Ele se senta à mesa com você, segura os talheres com educação e sorri para quem ama, enquanto por dentro tudo treme. Foi assim naquele domingo.
O almoço em família tinha sido ideia das nossas mães. “Para celebrar a nova fase de vocês”, disseram, animadas demais para quem não fazia ideia do que realmente estava em jogo. Ravi e eu trocamos um olhar silencioso quando recebemos a mensagem no grupo da família. Milena confirmou presença quase ao mesmo tempo. Jéssica demorou mais. Quando respondeu, veio apenas um “ok” seco. Conhecia aquele tom. Era pânico disfarçado de controle.
Chegamos cedo à casa da tia Helena — mãe do Ravi — porque ela insistiu em ajudar com a sobremesa. A casa estava cheia de cheiros bons: alho dourando, carne assando, ervas frescas. Um cenário comum. Familiar demais para o turbilhão que eu carregava.
— Meu Deus, vocês estão magros! — minha mãe disse assim que nos viu, puxando-me para um abraço apertado. — Faculdade suga