Ruan Duarte
Existem verdades que não pedem permissão para existir. Elas apenas crescem, pesam, ocupam espaço dentro do peito até não caber mais silêncio. E quando finalmente são ditas em voz alta, não importa o quanto doa — elas libertam.
Eu sabia que aquele dia chegaria. Só não imaginei que seria tão cedo… nem que faria tanto barulho.
Tudo começou numa terça-feira aparentemente comum. Eu estava no apartamento, tentando me concentrar em um trabalho da faculdade, quando Jéssica chegou mais cedo do que o normal. O rosto pálido, os olhos vermelhos, a bolsa quase caindo da mão.
— O que aconteceu? — perguntei, levantando num pulo.
Ela largou tudo no sofá e se sentou, passando as mãos pelo rosto.
— Fui chamada na coordenação.
Meu estômago revirou.
— Eles sabem?
— Não… ainda não. — Ela respirou fundo. — Mas alguém desconfia. Comentários, olhares, perguntas atravessadas. Não dá mais pra fingir que nada está acontecendo.
Sentei ao lado dela, segurando sua mão.
— Então a gente para de fingir.
E