O carro atravessava a madrugada como um suspiro preso entre o peito e o desespero. O céu parecia pesar sobre os morros, escuro, silencioso demais, como se a própria Rocinha estivesse prendendo a respiração.
Mariana mantinha as mãos pressionando o ferimento do Rei, sentada no banco de trás com ele desmaiado em seu colo. O sangue escorria entre os dedos, quente e implacável. Ela já havia atendido muitos homens baleados. Já tinha visto corpos despedaçados pela violência da favela. Mas nunca fora o homem dela. Nunca fora ele.
O rosto dele estava pálido, quase azulado, os lábios entreabertos como se estivesse tentando dizer alguma coisa que já não conseguia mais articular. O peso do corpo dele contra o dela era o peso de tudo: das promessas, da guerra, das perdas, do amor que ela sequer ousava nomear em voz alta.
— Acelera, Bruno! — ela gritou, a voz embargada.
Bruno, ao volante, com as mãos firmes e os olhos marejados, apertou ainda mais o pé no acelerador. O carro subia as ladeiras c