Narrado por Enzo
A notícia chegou como um tiro mudo: sem som, mas rasgando tudo por dentro. Estávamos no hospital, Maya com a mão apertando a minha, os olhos dela varrendo o corredor vazio. Do outro lado da porta, médicos corriam, enfermeiras cochichavam. O sangue de Bruno ainda quente. A bala mal tinha esfriado. Ele havia tido uma complicação após uma cirurgia.
Então a porta abriu. A médica estava pálida, os olhos fundos de quem já perdeu batalhas demais.
— Perdemos ele.
O chão fugiu debaixo dos nossos pés. Maya não gritou — o grito dela ficou preso, desabando só nos olhos. Ela deslizou pelo azulejo como uma boneca partida. Eu a segurei, a abracei, mas era como tentar segurar água: escorria dor demais.
Melissa chegou segundos depois. A mulher que sempre foi uma muralha, caiu como uma folha. Foi ela quem gritou. Um grito que encheu o hospital, fez enfermeira chorar, fez gente rezar.
E eu... eu não podia chorar. Não naquele momento. Porque todos olhavam pra mim.
O velório foi no alto