Narrado por Enzo
A Rocinha nunca dormia completamente. Às vezes, era só um sussurro de vozes entre vielas, um rádio distante tocando um samba abafado, ou o som vapores nas bocas lá no fundo, lá onde os olhos não alcançavam. Mas naquela noite em que tudo parecia repousar, eu não conseguia. Porque o mundo tinha mudado. Eu tinha mudado.
Maya dormia de lado, os cabelos soltos no travesseiro, a respiração calma e constante. A barriga ainda era discreta, mas ali dentro já batia um coração — o coração do nosso bebê.
Me aproximei devagar, sentindo o cheiro doce do cabelo dela, e passei os dedos levemente por sua cintura até pousar a mão ali, sobre aquela curva suave que escondia o início da vida que criamos. Eu nunca pensei que fosse sentir isso tão cedo. Nunca pensei que amaria tanto. Mas ali, naquele toque silencioso, o mundo parava.
— Eu vou cuidar de vocês — sussurrei, baixinho, como se o bebê pudesse me ouvir. — Mesmo que eu tenha que largar tudo. Faculdade, sonhos... tudo. Agora vocês