Narrado por Rei
O dia nasceu cinza sobre o morro, como se até o céu soubesse que alguma coisa estava prestes a ruir. Eu sentia isso no peito. No som abafado dos tiros da madrugada. No olhar dos moleques que me cumprimentavam calados. E mais ainda quando recebi o rádio de Tavinho às sete e meia da manhã:
— Patrão... o bagulho é quente. Dantas e o Alemão tão trocando ideia. Juntando os dois pra tentar subir o morro.
Fiquei em silêncio por dois segundos. Meu olhar varreu o asfalto rachado da laje, lá de cima, onde o mundo era pequeno e o perigo vinha de todas as direções. Dantas era um verme antigo, traidor, que já tinha tentado puxar meu tapete uns anos atrás. E o Alemão... o desgraçado que jurou nunca botar os pés aqui de novo. Agora vinham juntos.
— Tu tem certeza? — perguntei, já sabendo que sim. Tavinho não era de falar o que não sabia.
— O Willian confirmou. Escutou os dois na comunidade do lado. Tão fazendo aliança pra tomar o morro. Querem derrubar você, chefe.
Deslig