A mãe solo e o CEO
A mãe solo e o CEO
Por: Luiza Eduarda
capítulo 1

Capítulo 1 – Helena

Acordei antes do sol nascer, como sempre. Theo ainda dormia, o rostinho sereno afundado no travesseiro, os cílios longos roçando as bochechas. Por um instante, fiquei ali parada, observando-o respirar. Era incrível como aquele pequeno ser era, ao mesmo tempo, minha fraqueza e minha maior força.

Peguei meu celular: 5h12 da manhã. O despertador ainda nem tinha tocado. O corpo parecia saber que hoje não era um dia qualquer. Hoje era o dia da entrevista na Vasconcellos Group, uma das maiores empresas do país. O tipo de lugar em que eu nunca imaginei que teria uma chance — mas, de alguma forma, meu currículo chamou atenção.

Levantei devagar, tentando não fazer barulho. A casa era pequena, mas era nossa. Dois cômodos e uma varanda apertada, onde Theo gostava de brincar com o carrinho azul que ganhara no Natal. Eu podia não ter muito, mas tínhamos paz. E, depois de tudo o que vivi, isso já era mais do que suficiente.

Vesti a calça preta social que comprei em um brechó e a blusa branca que passei na noite anterior. Me olhei no espelho e respirei fundo. O cabelo cacheado, que muitas vezes parecia ter vontade própria, caía sobre os ombros em ondas indomáveis. Passei um batom discreto. Nada chamativo. Eu precisava parecer profissional, confiante — mesmo que por dentro eu estivesse um caos.

Enquanto tomava o café preto, minha cabeça voava longe. Pensei em tudo o que enfrentei desde que o pai do Theo desapareceu da minha vida.

Lembro do dia em que contei sobre a gravidez. Ele me olhou como se eu tivesse destruído o mundo dele.

“Não posso ser pai agora, Helena. Você sabe que tenho planos.”

Essas foram as últimas palavras que ouvi antes de ele virar as costas.

E, desde então, aprendi que amar alguém não é garantia de ser amada de volta.

— Mamãe… — A voz sonolenta de Theo me tirou dos pensamentos. Ele veio até mim, arrastando o cobertor.

— Ei, campeão. Ainda é cedo, volta pra cama. — Sorri, ajeitando os cachos bagunçados dele.

— Você vai trabalhar? — murmurou, esfregando os olhos.

— Vou tentar um trabalho novo. Um bem importante.

— Você vai conseguir — ele disse com uma certeza que me fez rir.

Como era possível um garotinho de seis anos ter tanta fé em mim, quando eu mesma duvidava tantas vezes?

Deixei Theo com a vizinha, dona Lurdes, e segui para o metrô. As mãos suavam dentro da bolsa onde eu guardava o currículo. Durante o trajeto, olhei pela janela o céu que começava a clarear.

“Você precisa acreditar em si mesma”, repetia mentalmente.

Cheguei ao prédio da Vasconcellos Group antes das oito. Era imenso, espelhado, com seguranças na porta e um saguão tão luxuoso que eu tive medo de pisar no tapete. As pessoas ali vestiam ternos impecáveis, os sapatos brilhavam. Eu me senti uma intrusa, mas mantive a cabeça erguida.

Na recepção, uma moça me pediu o nome.

— Helena Duarte, entrevista para a vaga de assistente executiva.

Ela assentiu e me pediu para esperar. Enquanto isso, tentei disfarçar o nervosismo observando os quadros nas paredes — todos com fotos de um homem de terno, olhar firme, sorriso contido. O CEO. Arthur Vasconcellos.

Eu já tinha lido sobre ele nas notícias: o homem que transformou a empresa em um império. Jovem, bilionário, respeitado… e completamente inalcançável. Diziam que era frio, que não se envolvia com ninguém fora do trabalho, que vivia para os negócios. Um homem acostumado a mandar.

Quando a secretária me chamou, minhas pernas quase não obedeceram.

— Senhorita Duarte? O senhor Vasconcellos vai entrevistá-la pessoalmente.

Meu coração deu um salto. Pessoalmente?

A maioria das candidatas passava apenas por recursos humanos. Por que eu?

Entrei na sala enorme, de janelas panorâmicas e móveis minimalistas. E lá estava ele — sentado atrás de uma mesa de vidro, digitando algo no notebook. Quando levantou o olhar, por um segundo, o mundo pareceu parar.

Arthur Vasconcellos era ainda mais impressionante ao vivo. Alto, ombros largos, cabelo escuro perfeitamente penteado. Os olhos — um tom indecifrável entre o cinza e o verde — me analisaram como se pudessem ver além da aparência.

— Senhorita Duarte — ele disse, com a voz grave, firme. — Pode se sentar.

Sentei, tentando esconder o tremor das mãos.

— Seu currículo é… incomum. — Ele deslizou os olhos sobre as folhas. — Experiência em administração, mas muitos períodos de ausência. Posso saber o motivo?

Engoli em seco.

— Eu… tive um filho. Criei sozinha. Precisei parar alguns anos para cuidar dele.

Ele assentiu lentamente, sem demonstrar reação.

— Entendo. E por que decidiu voltar ao mercado agora?

— Porque ele já está na escola, e eu quero mostrar pra ele que a mãe dele não desistiu da vida. — Falei sem pensar, com o coração.

Arthur ergueu o olhar, e por um instante o ar pareceu mais denso.

— Determinada — murmurou. — Gosto disso.

Fiquei sem saber o que responder. Ele se recostou na cadeira, observando-me.

— Sabe lidar com pressão, senhorita Duarte?

— Lido com ela todos os dias — respondi. — Desde o momento em que acordo.

Os cantos dos lábios dele se moveram num quase sorriso. Quase.

— Está contratada.

Fiquei muda por um instante, sem acreditar.

— Desculpe… o senhor disse…?

— Contratada. Comece na segunda-feira. — Voltou o olhar para a tela, como se nada demais tivesse acontecido.

Saí da sala atordoada, o coração disparado. Nem percebi que sorria até ver meu reflexo no vidro do elevador. Pela primeira vez em muito tempo, eu tinha uma chance real de mudar de vida.

E, ainda que eu não soubesse, aquele encontro com Arthur Vasconcellos seria o começo de algo que mudaria tudo — não só meu destino, mas o dele também.

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