Capítulo 5

Pablo.

Eu ainda estava bolado — aquela vadia com certeza falou meu nome lá. Se ela falou, vai se arrepender pelo resto da vida. Tive que tomar um gole de cachaça pra relaxar a mente, até que Tales chegou.

— Manda o papo! — eu disse.

— A mina deu teu vulgo: Pablo Boladão. A polícia já sacou que é você; por isso eles vieram aqui ontem. — ele disse. Peguei a garrafa de cachaça e joguei na parede.

— Descobre onde essa vagabunda mora — falei com muita raiva e subi para o quarto onde Melinda estava.

— O que fez com ela? — ela perguntou, chegando perto de mim. Olhei bem para a cara dela.

— Se tu soubesse o que eu sei, tu ia querer essa vagabunda morta — eu disse, fechando a porta.

— Você pensa que sabe de mim, mas não sabe nada. Ela foi a única que me acolheu quando divulgaram fotos íntimas minhas; todos me julgaram — ela disse, chorando.

Aquela fala dela bateu em mim como um soco.

Outro homem viu o que é meu.

Outro homem tocou no que deveria ser só meu.

O sangue ferveu. O peito pesou.

Por dentro, eu já tava respirando igual um animal preso.

— Hahaha, e que foto, hein? Até hoje eu tenho. — eu disse, rindo, mas a verdade é que minha cabeça explodiu só de lembrar que alguém já tinha visto ela daquele jeito. Ela me deu um tapa na cara; meus olhos ficaram negros.

— Desculpa! — ela disse, pegando em mim.

Eu fechei os olhos, suspirei de raiva e fechei os punhos.

Ela não sabia o que mexia.

Ela não sabia que, quando falava do passado dela, algo em mim possuía o corpo inteiro.

Ela não entendia que o pior dia da vida dela fazia nascer o pior lado do meu.

— Eu tô nervosa e com medo, e isso me toca muito; pois foi o pior dia da minha vida, vê se me entende — ela disse.

Eu olhei para o lado, engolindo a raiva. Não disse nada. Simplesmente saí e tranquei a porta. Cara, não quero machucar mais essa mina, mas ela me testa todo dia. Todo santo dia. E quanto mais ela chora, mais eu sinto que ela é minha. Minha pra proteger. Minha pra esconder. Minha pra destruir quem encostar.

— Filho, o que foi isso no seu rosto? Nossa, tá vermelho — dona Vanuza perguntou.

— Deixa baixo! — eu disse.

— O que vai ser de almoço para a moça? — ela perguntou.

— Água e pão — respondi.

— Filho, isso não é comida — ela disse, passando a mão na boca.

— Pra ela vai ser! E não passe por cima da minha ordem — eu disse, saindo.

— Achamos a patricinha! — Tales falou.

— Eu vou pessoalmente pegar a Cinderela — eu disse, entrando no carro junto com meus de fé. Até que chegamos em frente ao prédio.

— Onde está a vagabunda? — perguntei, e ele apontou para uma mina saindo de roupa de academia.

— Deixa ela vir — eu disse. Ela passou e eu a chamei.

— Oi — falei, descendo do carro.

— Oie — ela respondeu, toda manhosa.

— Tu pode me dar uma informação? — perguntei.

— Para você eu passo até mil — ela disse, e eu sorri.

— Pode me informar onde fica o apartamento de Melinda Mendonça? — eu perguntei. A mesma desfez o sorriso e fez cara de desdém.

— Você não viu? Ela tá desaparecida, deve ter fugido como da última vez pra fazer mídia por causa de macho. Mas agora esse é cabeça grande — ela disse.

— Como assim “cabeça grande”? — eu nem precisei perguntar muito: a mina é boca aberta demais.

Ela olhou para os lados.

— Ela tem um seguidor que eu acho que é traficante. A polícia me perguntou, mas eu não disse o nome dele — não sou louca. Só sei o vulgo dele; de cara eles descobriram quem é. Só Melinda mesmo pra atrair esse tipo de gente. E pior: o noivo dela ainda nem sabe, hahaha — ela riu. — Mas lógico que vou fazer uma visita pra consolar o coração dele.

Ela falou noivo? que porra de noivo é esse, não vou perder a linha agora vou continuar com o enquadro.

— É mesmo? E qual o vulgo do cara? — eu perguntei.

— Não posso dizer, nem sei quem é você — ela respondeu.

— Sou um seguidor da Melinda e queria saber — eu disse.

— Ah, que chato. Só de seguidor aqui já foram quase cinquenta só hoje. Tá bom: parece que o vulgo dele é Pablo Boladão — foi o que ela me mostrou. — ela disse.

— Prazer, Mila! — eu disse, estendendo a mão; ela apertou.

— Prazer? — ela perguntou.

— Pablo Boladão! — eu disse, e ela desfez o sorriso. Eu a puxei.

— Tu é boca aberta demais, né, sua vadia talarica da porra — eu disse, colocando a arma na costela dela.

— O que vai fazer comigo? — ela tremia. Até que os meus colocaram ela dentro do carro, e fomos para o alto do morro.

— Eu nem precisei te perguntar nada e tu já foi falando — eu me sentei, e ela estava na minha frente.

— Por favor, eu não disse nada demais; só falei o que eu sabia — ela disse, chorando.

— Se tu sabia que era “cabeça grande”, por que falou meu nome pros vermes? — perguntei, colocando a arma na mesa; ela gelou.

— Desculpa! Eu só queria achar minha amiga — ela disse, chorando.

— E quem te garante que eu estou com ela? — perguntei; ela começou a chorar.

— Porque ela comentou sobre tu, eu deduzi — ela disse.

— Deduziu e foi falar merda — eu disse.

— Desculpa! — ela repetiu.

— Hahaha, “desculpa” é o caralho. Tu vai pagar por ser boca aberta e ainda ser talarica. Tales, na quebrada, quem talarica merece o quê? — eu disse.

— Ripada! — ele falou, rindo. Ela arregalou os olhos.

— Ri o quê? — ela perguntou, chorando.

— Mas pior é quem é boca aberta! — eu disse.

Ela começou a chorar.

— Quem é boca aberta, amanhece com a boca cheia de formiga — Tales falou.

— Isso mesmo! — eu disse. Ela ficou desesperada e eu comecei a rir.

— Uma amiga como tu? Eu preferia ter como amigo um animal — eu disse.

— Por favor, eu sustento minha família; eles dependem de mim — ela falou.

— Papo seco: todo culpado tem desculpa — eu disse, acendendo um cigarro.

— Pablo, vamos trocar um lero aqui — Tales falou, e eu me levantei.

— A gente não pode matar essa mina. Se a gente matar, os cana vão ligar os pontos e aí sim vão ver que tu tá com a mina mesmo. Coagir ela também vai levantar suspeita — ele disse.

— E tu quer que eu passe creme na cabeça dela? Nem fudendo — respondi.

— Cara, escuta teu sub aqui: isso vai dar merda se essa mina aparecer morta — ele insistiu.

— Merda, Tales! — eu gritei.

— O certo é dar um corretivo nela — ele falou.

— O certo é ela morrer — eu disse.

— Vai dar certo. Vamos dar um corretivo nela que ela nunca vai esquecer — ele disse.

— Eu queria brincar com ela até umas horas, mas tenho que resolver outro B.O. — eu falei.

— Qual? — ele perguntou.

— Eles não queriam saber dela? Pois bem: ela vai botar a cara — eu disse.

— Como vai liberar ela? — ele perguntou.

— Tu vai ver! — eu respondi. — Dá um jeito nessa mina antes que eu mude de ideia e a mate. — Falei, saindo...

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