A cidade parecia a mesma, mas Valentina sentia tudo diferente.
Talvez fosse o silêncio entre ela e Heitor na viagem de volta. Ou o campo de morangos, com sua beleza melancólica. Talvez fosse o modo como ele a observava como se já soubesse demais — e dissesse de menos.
Ou talvez fosse o que ela mesma sentia: aquela estranha vontade de saber mais, mesmo que doesse.
Na manhã seguinte, acordou antes do despertador. A rotina a puxava de volta com força — pedidos acumulados, agenda apertada, reuniões com a equipe e reclamações de fornecedores atrasados.
Vestiu-se com pressa, prendeu o cabelo num coque frouxo e deixou o restaurante sob os cuidados da gerente.
“Vou buscar o carro no mecânico”, avisou para um dos funcionários.
Heitor quis acompanhá-la. Ela recusou com um olhar seco, firme.
— Não precisa. Só vou pegar o carro e dirigir por aí um pouco. Respirar. Você pode ficar me vigiando pelo GPS, não é? — disse com sarcasmo.
Ele a observou por um instante longo, como se calculasse os riscos