Theodoro
O trânsito na Marginal Pinheiros era a própria definição de tortura moderna. Fileiras e mais fileiras de carros se arrastando como se alguém tivesse apertado pause no universo e esquecido de soltar. Buzinas, gritos, motoqueiros passando rente aos retrovisores como se tivessem pacto com alguma entidade sobrenatural.
Estiquei o braço, afrouxando mais o colarinho, e respirei fundo. Não que isso adiantasse muita coisa. O ar estava quente, pesado, uma mistura de gasolina, poluição e frustração coletiva.
Cruzar do Jaguaré até o Jardim Europa parecia uma missão digna de filme de ação — daqueles em que o mocinho explode metade da cidade para conseguir chegar aonde precisa. A diferença é que, no meu caso, o máximo que eu podia explodir era minha própria paciência.
E, para completar, minha cabeça não desligava.
“Sério... como diabos aquela mulher vai trabalhar amanhã? Se nem dinheiro para voltar para casa depois da entrevista ela tinha?”
Revirei os olhos.
— Não é problema meu. — Disse