Sérgio permaneceu na cozinha, imóvel, a respiração acelerada e o rosto pálido. A colher ainda estava no chão, esquecida, e o jantar, que antes borbulhava, começava a queimar na panela — um detalhe pequeno diante da devastação que acabara de entrar pela porta.
Sérgio finalmente se moveu. As pernas tremiam, os olhos ainda fixos na direção por onde Marcos havia saído. Cada palavra dita ecoava dentro dele como marteladas — Abigail, sofrimento, gravidez. A realidade o atingira com força brutal, arrancando-o da paralisia confortável em que havia se escondido.
Ele se abaixou lentamente, pegou a colher caída no chão, e a segurou com força, como se aquele gesto simples fosse uma âncora no meio do caos. Mas nada mais era igual.
O silêncio no apartamento ainda era pesado, quebrado apenas pelo aroma do jantar queimado. Clara permanecia perto da porta, olhando para Sérgio com uma expressão confusa e curiosa.
— Espera… — começou ela, hesitante — a Abigail… é a mulher das cartas?
Sérgio suspirou, o