O voo de Marcos partia poucas horas depois. Henrique o deixou no aeroporto com a mesma discrição e firmeza de sempre. Não houve discursos longos — apenas um abraço forte, silencioso, entre dois homens que sabiam que aquele momento não pedia palavras.
— Me avisa quando chegar. — disse Henrique, com um leve aperto no ombro dele.
— Pode deixar. — respondeu Marcos, a voz ainda rouca, o olhar cansado.
O portão de embarque se fechou atrás dele, e, pela primeira vez em horas, o silêncio envolveu Marcos como um cobertor pesado. A raiva havia cedido lugar ao esgotamento. Ele passou o voo quase inteiro calado, com a cabeça encostada no encosto, os olhos abertos, mas longe dali — presos nas últimas palavras ditas na cozinha, no impacto do soco, no rosto pálido de Sérgio ao ouvir sobre a gravidez.
Quando finalmente pousou na Itália, a noite já havia se instalado. O ar era mais frio, cortante, e assim que saiu do aeroporto, sentiu a mudança de clima como se estivesse entrando em outra realidade —