O relógio da sala de espera marcava 3h17 da madrugada quando Sérgio voltou a se sentar, o corpo curvado, as mãos trêmulas apoiadas nos joelhos. A sala estava vazia — Marcos e Luíza haviam ido buscar um café que ele recusara. Desde a notícia, não havia conseguido pronunciar uma única palavra.
O médico tinha sido gentil. Comedido. Mas nem toda a delicadeza do mundo suavizaria o que ele disse.
“Perdemos o bebê.”
A frase ecoava como uma sentença que não pertencia à sua realidade. Ele não sabia que Abigail estava grávida até o dia do acidente. E, mesmo assim, aquilo doía como se tivesse esperado aquele filho desde sempre. Doía como se tivesse segurado em seus braços, sentido o primeiro chute, escolhido um nome. Doía como se já o tivesse amado — e talvez tivesse mesmo.
Agora, tudo o que restava era o vazio.
Sérgio se levantou, caminhando em silêncio pelos corredores do hospital. Precisava respirar. Precisava não explodir dentro de uma sala branca onde as paredes ecoavam apenas sussurros e