Os dias seguintes ao acidente arrastavam-se com uma lentidão cruel, como se o relógio tivesse se transformado em um inimigo silencioso.
Abigail permanecia inerte na cama hospitalar, ligada a uma teia de fios e tubos que pareciam sugar toda a cor e o calor dela, devolvendo apenas um frágil eco de vida. O rosto estava marcado por hematomas arroxeados que contrastavam com a palidez da pele; o corpo, imóvel, como se ainda estivesse preso no instante exato em que a tragédia aconteceu.
No sétimo andar do hospital, onde os quartos de cuidados intensivos ficavam isolados atrás de portas pesadas, o tempo parecia suspenso. Ali, cada som tinha um peso: o bip dos monitores, o sussurro dos enfermeiros, o arrastar de passos no corredor. Cada barulho que se aproximava da porta acendia uma chama de esperança no peito dos que esperavam — e a apagava em seguida, deixando apenas mais um resto de cinza.
Na manhã do terceiro dia, o médico responsável pela UTI surgiu no corredor. O rosto denunciava noites