O dia amanheceu nublado, refletindo o humor pesado de Sérgio. Ele e Miguel decidiram pegar o primeiro trem do dia que os tiraria da cidade, deixando para trás as ruas estreitas e o silêncio da casa de Abigail. O ar frio da manhã se infiltrava pelas frestas das janelas da estação, e Sérgio sentia que cada passo rumo à plataforma era como atravessar uma fronteira invisível: a de aceitar que estava partindo sem respostas, sem despedida adequada, apenas com as cartas fechadas como testemunhas mudas de um amor interrompido.
Sentado na poltrona do vagão, observava a paisagem se transformar lentamente. Os prédios antigos, úmidos pela neblina, foram ficando para trás, cedendo lugar a campos abertos, árvores solitárias e casas isoladas. O trem avançava firme sobre os trilhos, como se o mundo inteiro fosse empurrado para longe. Cada quilômetro percorrido parecia afastá-lo de Abigail, mas, ao mesmo tempo, não aliviava o peso no peito.
As cartas repousavam sobre seu colo, ainda seladas, pesando c