Havia homens que nasciam para viver. E havia homens que nasciam para reinar. Khaled Al-Rashid, aos trinta e quatro anos, era o segundo tipo.
Eram poucos aqueles que ousavam erguer os olhos diante de sua presença. Com um metro e noventa e cinco de altura, ele se impunha como um titã, uma montanha erguida em carne e osso. O corpo, moldado por anos de treino árduo, não era apenas belo — era uma escultura viva da virilidade masculina. Os músculos distribuíam-se de maneira perfeita, equilibrada, como se cada fibra tivesse sido esculpida pelo próprio deus do deserto. Seu peito largo e poderoso se erguia como muralha, símbolo de força e domínio, sustentado por ombros maciços e braços vigorosos que pareciam carregar não apenas seu próprio peso, mas o destino de um povo inteiro. Ao vê-lo em suas túnicas ou em seus trajes de treino, o olhar feminino se incendiava: havia algo nele que transcendia a beleza comum, uma energia quase selvagem que atraía e intimidava ao mesmo tempo. Se o corpo era a obra-prima da disciplina, o rosto de Khaled era a expressão definitiva da masculinidade. O maxilar quadrado lhe conferia firmeza, como o traço de um guerreiro inabalável. Seu olhar, de um verde profundo, hipnotizava como o oásis que surge em meio ao deserto — promessa de vida, mas também de perigo. As sobrancelhas espessas e bem desenhadas acentuavam a intensidade desse olhar, tornando-o quase impossível de sustentar por muito tempo sem sentir o peso de sua autoridade. A barba negra, sempre aparada com perfeição, moldava seu rosto como uma moldura de poder, acrescentando-lhe um ar de superioridade e domínio. Havia nele algo que dizia, sem palavras: “eu comando, eu tomo, eu decido”. E, quando sorria — o que era raro —, seus lábios cheios revelavam dentes brancos como marfim, mas mesmo o sorriso carregava certa ameaça, como se lembrasse a todos de que a clemência também era um privilégio que ele escolhia conceder. Desde menino, Khaled sabia quem era. Não havia nele espaço para dúvidas ou hesitações. Ele nascera para liderar, ser respeitado, influenciar. Um verdadeiro macho alfa, dono de uma postura que incendiava tanto o respeito dos homens quanto o desejo secreto das mulheres. Não acreditava em sorte, apenas em destino. E seu destino, acreditava, era reinar. Suas palavras eram promessas cumpridas, suas ordens eram leis. Quando dizia “vai acontecer”, acontecia. Não havia em Khaled espaço para o “talvez” ou o “quem sabe”. Tudo em sua vida era firmeza, clareza, domínio. Seu pai, Sheik Hassan Al-Rashid, fora um homem venerado. Hoje idoso, ainda vivia no palácio, cercado de respeito e honra. Hassan fora um dos líderes mais temidos e admirados de sua geração, conduzindo o vilarejo de Al-Zahra do pó à abundância. Fora ele quem ensinara ao filho que governar não era apenas desfrutar do poder, mas carregar sobre os ombros o fardo da responsabilidade. Sua mãe, Layla, fora a suavidade em contraste ao aço de Hassan. Mulher de sabedoria, tinha a calma da areia eterna e a força invisível das raízes da fé. Fora ela quem moldara no coração de Khaled o respeito à tradição, ao Islã, às orações diárias que sempre lembravam que, acima de todo poder, havia apenas Allah. Do pai, herdara a força. Da mãe, a fé. De ambos, herdara o trono invisível que se assenta não sobre pedras ou coroas, mas sobre a alma de um povo. Khaled era o primogênito. Atrás dele vinham três irmãs — Amina, Soraya e Yasmin — todas mais jovens, todas belas, todas educadas dentro das tradições que moldavam gerações. O destino delas já estava escrito antes mesmo de nascerem: um casamento arranjado com homens de famílias poderosas, alianças seladas não pelo amor, mas pela estratégia, como sempre fora na cultura de sua terra. Apesar de sua rigidez, Khaled cuidava das irmãs com zelo. Não lhes oferecia liberdade além da tradição, mas lhes dava o conforto, o luxo e a proteção que a posição de seu nome permitia. Ele sabia que o destino delas não era escolher, mas representar. Como líder, Khaled era respeitado e temido em igual medida. Em público, sua postura ereta, o queixo erguido e os olhos fixos transmitiam uma confiança que não permitia questionamentos. Não precisava erguer a voz para impor autoridade; sua simples presença já calava assembleias inteiras. Os homens o seguiam, pois sabiam que sob seu comando havia prosperidade. Os pobres eram alimentados, os doentes eram cuidados, e os negócios floresciam como flores raras no deserto. Ele protegia seu povo com mão de ferro, e, em troca, era venerado como um verdadeiro soberano. Mas, se para os homens Khaled era um líder, para as mulheres ele era mais do que isso. Sua presença despertava fantasias e medos. Seu corpo forte, sua voz grave, seu olhar ardente — tudo nele gritava virilidade. Não havia mulher que não o notasse, mesmo as que baixavam os olhos por respeito ou vergonha. O simples toque de sua mão sobre o ombro de uma criada era capaz de fazê-la tremer como se tivesse recebido um sinal divino. E no entanto, apesar do harém repleto de concubinas, apesar de toda a beleza que o rodeava, nenhuma mulher havia realmente tocado seu coração. Para Khaled, todas eram parte do cenário, todas eram substituíveis, todas eram lembranças passageiras da noite anterior. O amor, para ele, era um luxo inútil. O que movia sua vida era o poder. Agora, aos trinta e quatro anos, Khaled estava no auge de sua força. Nenhum contrato era fechado sem seu nome, nenhuma decisão era tomada sem sua aprovação. Seus negócios se expandiam para além das areias da Arábia, alcançando terras distantes. O petróleo, as pedras preciosas, os tecidos raros — tudo passava por suas mãos. Mas não era apenas por riqueza que se movia. Era pelo instinto natural de dominar, de conquistar, de ampliar sua influência até que o mundo inteiro soubesse seu nome. No entanto, a vida tinha uma forma curiosa de surpreender até mesmo os homens mais poderosos. Quando seus negócios o conduzissem ao Brasil, ele não imaginava que encontraria algo que nem o ouro, nem o petróleo, nem o poder poderiam comprar: uma mulher que ousaria desafiá-lo. E, como o deserto que nunca recua diante do vento, Khaled também não recuaria diante dela.