Capítulo 3

A estrada que levava ao vilarejo era de cascalho, ladeada por cercas baixas e árvores de galhos retorcidos. Eleanor caminhava com passos rápidos, as mãos nos bolsos do casaco e os olhos fixos à frente. O vento frio do interior cortava sua pele, mas ela o preferia ao silêncio carregado da casa.

Tentava afastar o incômodo das pegadas no jardim. Dissera a si mesma que talvez fossem de uma criança brincando ou até de um animal qualquer. Mas havia algo naquilo que a perturbava — não só pelas marcas em si, mas porque pareciam parte de algo maior, como se a casa estivesse tentando se comunicar. Ou avisar.

Sacudiu a cabeça. Estava cansada. Ainda fragilizada. A mente podia criar fantasmas onde só havia ecos.

Quando chegou à praça principal, a névoa já começava a se dissipar. Era um vilarejo pequeno e pitoresco, com construções de pedra acinzentada, portas coloridas e vitrines modestas. Um mercadinho, uma floricultura, um pub com fachada escura e cortinas grossas nas janelas. Um lugar onde todo mundo conhecia todo mundo — e, provavelmente, já sabiam que ela havia voltado.

Sentiu os olhares antes mesmo de se dar conta deles.

Na entrada do mercadinho, duas mulheres conversavam encostadas num balcão improvisado com caixotes de maçã. Quando Eleanor passou, o assunto cessou. Uma delas sorriu de forma contida; a outra apenas observou, os olhos apertados de curiosidade. Dentro da loja, o velho sino da porta soou agudo, e o atendente — um homem baixo, de cabelos ralos — ergueu os olhos e a reconheceu de imediato.

— Você é... Eleanor?

Ela assentiu, forçando um sorriso.

— Sim. Eleanor Hartwood. Sou sobrinha da senhora Vivienne.

— Claro. Claro... — Ele limpou as mãos num pano sujo antes de se aproximar do balcão. — Soubemos do falecimento dela. Meus pêsames. Era uma mulher... reservada, mas correta.

Eleanor agradeceu com um aceno, mesmo sem saber como responder àquela frase.

— Está hospedada na casa dela?

— Estou. Na verdade, herdei a casa.

O homem piscou, surpreso.

— Vai morar ali?

— Por enquanto, só estou passando um tempo. Preciso descansar, pensar um pouco. — Fez uma pausa. — Mas estou sem energia elétrica. Não sei se cortaram por falta de uso, ou...

— Ah. Deve ser só o disjuntor geral. O senhor Hobbs cuida dessas coisas. A empresa de energia já quase não vem aqui. Quer que eu o chame?

Eleanor assentiu, grata. Enquanto ele ligava para alguém num telefone antigo e encardido, ela circulou pela loja. Pegou velas, fósforos, uma lata de sopa, pão, chá novo. Tudo o que poderia manter a noite menos escura. Ao sair, as mesmas mulheres ainda estavam do lado de fora. Uma delas cochichou algo quando Eleanor passou. Fingiu não notar, mas o arrepio foi inevitável.

Seguiu até o pub, mais por curiosidade do que por necessidade. O interior era aconchegante, com paredes revestidas de madeira e cheiro de lareira. Sentou-se perto da janela. Pediu um café. Observou o movimento — poucos clientes, quase todos homens, jogando conversa fora em vozes baixas.

E então o viu.

No canto mais escuro do pub, sozinho a uma mesa perto da lareira, havia um homem. Não usava chapéu, como os demais. Tinha os cabelos escuros e bagunçados, e um olhar absorto em algo que não estava ali. Não a olhava. Nem olhava ninguém. Parecia alheio ao mundo ao redor. Mas havia nele uma presença que a deixou desconfortável. Como se ocupasse um espaço maior do que deveria.

Um dos homens do balcão sussurrou algo e gesticulou em sua direção.

Theo Ravenscroft.

Não precisava perguntar. Ela sabia, com aquela intuição que não se explica, que era ele.

O homem solitário da casa do lago. O escândalo que ninguém comentava abertamente. O nome que pairava no ar como um segredo conhecido por todos, mas nunca dito em voz alta.

E por um instante, seus olhares se cruzaram.

Breve. Intenso. Como um toque de pele em uma ferida aberta.

Eleanor desviou os olhos.

Sentiu algo vibrar dentro do peito. Algo entre alerta e fascínio.

Levantou-se. Pagou o café. Saiu em silêncio, antes que o próprio silêncio dissesse mais do que deveria.

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