Eleanor passou a noite em claro.
Não porque algo a tivesse assustado exatamente — pelo menos não no sentido clássico da palavra. Mas havia uma inquietação, uma tensão silenciosa que parecia crescer entre os cômodos como raízes. A casa fazia barulhos. Muitos. E embora fosse natural que uma estrutura antiga estalasse, rangisse ou sussurrasse com o vento, havia algo nos sons que a deixava em estado de vigília, como se cada estalo fosse um chamado. Como se alguém andasse pelo andar de cima quando ela sabia que estava sozinha.
Tentou racionalizar. O piso velho, o teto alto, o vento entre as frestas. O tempo distante dali que se manifestava à sua própria maneira. Mas não adiantava. O desconforto persistia como uma brisa gelada na nuca.
Acordou — ou melhor, levantou-se — com o céu já acinzentado. A manhã se anunciava úmida, e havia uma névoa rasteira cobrindo o campo ao redor da casa. Ainda estava sem eletricidade. Vestiu um casaco mais grosso, preparou um chá com o que encontrara na antiga despensa — algumas latas enferrujadas, folhas secas, e uma chaleira com tampa solta — e se acomodou na cozinha, diante da janela embaciada.
Lá fora, o jardim parecia ainda mais descuidado à luz do dia. As plantas cresciam livres, quase selvagens, e trepadeiras tomavam parte da parede lateral da casa. Ela lembrava vagamente da tia Vivienne cuidando daquele jardim com esmero. Sempre de chapéu, sempre com as luvas de couro marrom, agachada na terra como se ali estivessem enterradas respostas. Agora, tudo aquilo parecia um retrato em ruínas.
Tomou o chá em silêncio. Estava morno, e o gosto de ervas envelhecidas trazia uma nota amarga, mas era melhor que o vazio.
Decidiu subir ao andar de cima.
As escadas rangiam sob seus pés, o que a fez andar mais devagar. O corrimão de madeira escura ainda estava firme, mas coberto por uma fina camada de poeira. Conforme subia, sentia um leve perfume no ar — não lavanda, como no térreo, mas algo mais adocicado, talvez jasmim. Parou no último degrau e inspirou profundamente. O cheiro desapareceu. Ou talvez nunca tivesse estado ali.
O corredor do andar superior era estreito e escuro, com quatro portas fechadas — dois quartos, um banheiro, e o antigo quarto de costura da tia. Abriu a primeira, o quarto onde costumava dormir quando criança. Reconheceu de imediato o papel de parede florido, agora amarelado e descascando em pontos. A cama ainda estava ali, coberta por um lençol branco. Tudo intocado. E frio.
Passou os dedos por uma moldura sobre a cômoda — uma foto da tia mais jovem, ao lado de uma mulher que Eleanor não reconheceu. A imagem estava levemente desbotada, mas as mãos dadas das duas mulheres transmitiam uma ternura que lhe apertou o peito.
Explorou o segundo quarto — mais vazio, com uma estante de livros e uma escrivaninha. Sentou-se por alguns minutos ali, sem propósito claro. Pegou um dos livros antigos: Jane Eyre. Havia uma anotação a lápis na primeira página:
"Para quem escolhe a liberdade, mesmo que doa." Reconheceu a letra fina da tia. Sorriu, mesmo com os olhos marejados.Decidiu sair. Precisava ir até o vilarejo e ver se alguém podia ajudá-la com a energia. Talvez comprar comida, velas, descobrir se ainda havia vizinhos. Precisava ouvir vozes, qualquer coisa além do eco da própria solidão.
Vestiu o casaco, pegou a bolsa e desceu com passos firmes.
Quando abriu a porta da frente, o ar frio a atingiu como um tapa. Mas algo mais chamou sua atenção.
Havia marcas no jardim.
Pegadas. Recentes. Pequenas demais para serem suas. Pequenas demais para um adulto. E desapareciam logo na curva da casa, onde a terra estava mais fofa e molhada.
Ela franziu o cenho. Olhou ao redor. Ninguém.
Fechou a porta atrás de si, o coração mais acelerado do que gostaria de admitir. Talvez um animal, pensou. Ou algum morador curioso. Mas no fundo, sentia: a casa estava longe de estar vazia.
Muito longe.