A floresta estava diferente naquela manhã.
Lia sentia isso nos pés, que afundavam um pouco mais na terra úmida, e no ar, que tinha um cheiro estranho de limpeza e álcool, como se tivesse deixado de ser floresta por um instante e se transformado em… outra coisa.
Ela parou, inspirou fundo.
O cheiro de lavanda misturado com algo metálico — um odor frio, que ela não conseguia identificar de imediato. E então… um som.
Bip.
Fraco. Ritmado.
Bip. Bip.
Ela franziu a testa, virou o rosto na direção do som. Não vinha das árvores, nem do vento. Era como se estivesse dentro dela.
Seguiu adiante, as trilhas que já conhecia tão bem pareciam mais longas. As folhas murmuravam algo que ela não compreendia, e o céu, encoberto, parecia pesar sobre seus ombros.
Outro som cortou o ar. De longe ela podia ouvir uma música conhecida, How Deep is your love tocava baixinho e então…
Vozes.
Distantes. Homens e mulheres falando baixo. Vozes que ela não conhecia… mas que causavam arrepios familiares