Acordar não foi como nos filmes. Não houve respiro repentino, olhos arregalados ou máquinas apitando em alerta. Foi um despertar lento, como se voltasse à superfície depois de muito tempo submersa. Primeiro, a luz — suave, filtrada por persianas. Depois, os sons — o bip compassado do monitor cardíaco, o sussurro abafado de vozes no corredor, passos arrastados de alguém com pressa e cansaço ao mesmo tempo.
E então, o cheiro. Um misto de álcool, soro fisiológico e o aroma inconfundível de uma flor recém-colocada no quarto — lírios, talvez. Lia abriu os olhos devagar, sentindo a claridade incomodar mais do que esperava. O corpo… parecia não ser dela. Havia um peso nos braços, uma dormência nas pernas, e o simples ato de piscar parecia exigir esforço demais.
— Lia? — uma voz sussurrou perto. Conhecida. Quase confortável. — Lia, sou eu… Rafael.
Ela virou o rosto com dificuldade, os músculos protestando, e ali estava ele: Rafael, com os cabelos mais compridos, olheiras profundas e um