Rafael se tornou parte da rotina de Lia, passou a ocupar o quarto de hóspedes e pouco a pouco o coração dela.
Ele estava ali, para levá-la as consultas, as fisioterapias. Para ajudar na organização, na recuperação e como sempre, cuidando de Lia com carinho e afeto.
Dias se passaram e certa noite, o céu escureceu devagar, com a delicadeza de um cobertor sendo puxado até o queixo. Do lado de fora, a chuva começou tímida, apenas um sussurro nos vidros da janela, como se pedisse permissão para entrar. Lia estava sentada no sofá da sala, uma manta azul-marinho cobrindo as pernas e uma xícara de chá entre as mãos. O som da água caindo lá fora parecia trazer à tona lembranças que ela mal sabia onde estavam guardadas.
Rafael entrou devagar, como quem não queria interromper o silêncio. Trazia dois pedaços de bolo de fubá e um olhar de quem carregava o mundo inteiro nas costas — e ainda assim, sorria.
— Você sempre aparece com bolo quando a chuva começa — disse Lia, aceitando o prato com u