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A babá sequestrada pelo alfa
A babá sequestrada pelo alfa
Por: Evy
Capítulo 1: A Noite que nunca deveria ter acontecido

A tarde estava dourada quando Liana desceu do ônibus, os cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo relaxado, a mochila pendendo num dos ombros e o sorriso mais leve que já tinha sorrido em semanas. A sensação de estar tão perto da formatura em pedagogia deixava tudo ao redor mais bonito, o céu, as pessoas, até o barulho do trânsito parecia música.

Era seu aniversário de um ano de noivado com Justin. Um ano desde que ele ajoelhou na praia, colocou aquele anel simples e doce em seu dedo e prometeu um “para sempre” que Liana acreditou com todo o coração.

Ela mesma havia comprado um bolo pequeno, de chocolate com morango, o favorito dele, e o segurava com todo cuidado, queria fazer uma surpresa, vê-lo sorrir, sentir que tudo aquilo… valia a pena.

Talvez estivesse ingênua demais. Talvez estivesse feliz demais.

E felicidade demais sempre cobra seu preço.

Liana atravessou a rua correndo, já imaginando o abraço que receberia quando abrisse a porta da casa que dividia com o noivo. Justin havia dito que estaria estudando para a prova da pós-graduação, provavelmente estressado, rabugento… 

“Ele vai amar a surpresa”, pensou, subindo os dois degraus da casa.

Girou a chave, mas a porta estava destrancada.

Estranho. 

“Ele sempre tranca a porta…”, pensou, mordendo o lábio.

Mas ela entrou sem pensar muito nisso, o cheiro familiar da sala preenchendo seu peito de aconchego.

Até ouvir o som.

Primeiro um gemido abafado.

— Ah… Me fode mais forte… — as palavras chegaram até ela como um soco na boca do estômago.

Não.

Não.

Não.

O coração de Liana martelou tão forte que ela achou que iria vomitar. Deu dois passos para dentro, sem sequer sentir as pernas.

E então viu.

Bem ali, no sofá da sala onde tantas vezes assistiu filmes com Justin, onde eles comeram pizza, onde ela adormeceu no colo dele.

Justin estava sobre uma mulher, mas não uma mulher qualquer.

Os cabelos ruivos idênticos aos seus sacudiram enquanto Justin se movia, e Amélia, sua irmã gêmea, gemia tão alto que parecia querer que todos ouvissem, e todos ouviam mesmo. 

— Ah Justin! Mais rápido! — implorava, enquanto abria mais as pernas para recebê-lo com um sorriso de puro prazer. 

Amélia arqueava as costas, as unhas cravadas nos ombros de Justin, a boca colada na dele como se o devorasse, e os dois só perceberam sua presença quando ela deixou cair o bolo, que rolou para fora se partindo em vários pedaços, espalhando chocolate e morango pelo tapete.

— Liana! — Justin gritou, empurrando Amélia de lado no exato momento em que os olhos azuis focaram nela, tentando cobrir o corpo nu com qualquer coisa. — O que você... O que está fazendo aqui?

Amélia apenas virou o rosto devagar, os olhos brilhando com um desafio frio, quase preguiçoso.

Nada de culpa, nada de vergonha.

— Você chegou mais cedo? Que pena. — Amélia disse sem nem ter a decencia de se cobrir, com um risinho divertido. 

— Como você pôde…? — Liana sussurrou, a voz quebrando no meio. — Você… você é minha irmã…

— E ele é um homem, querida. Homens cansam da mesma coisa todos os dias — Amélia provocou, cruzando as pernas sem pressa, ainda nua, ainda exibida, sem recuar um único centímetro. — Se você não consegue manter o seu, não é culpa minha.

Liana sentiu os olhos arderem com as lágrimas e sua cabeça zumbiu, como se um estrondo ecoasse por toda parte..

Foi seu coração?

Ou o mundo caindo?

Justin tentou se aproximar, mas ela deu um passo para trás tão rápido que quase tropeçou.

— Não encosta em mim — ela sussurrou, os olhos ardendo. — Não chega perto de mim!

— Liana, você precisa me entender...

— Entender? — ela o cortou, firme desta vez. — Que merda você quer dizer com entender? 

— Você só pensa na faculdade quando chega em casa só se preocupa em manter tudo limpo, cozinhar, lavar, não me dá atenção — a voz de Justin ficava cada vez mais irritada. — Está sempre bagunçada sempre usando aquelas roupas folgadas, não se arruma mais, até engordou! Se descuidou totalmente depois que te pedi em casamento. Eu sou um homem, como posso viver assim? Precisava de uma mulher de verdade, você parecia mais minha mãe. Mas eu te amo! Foi um deslize! Se você se cuidar melhor eu...

Não acreditava no que estava ouvindo, a casa palavra do homem que amava, seu coração se partia mais... Tudo o que ela fez foi por ele, vivia em função de cuidar dele, das coisas dele de tornar a vida dele mais fácil. Se desdobrava na faculdade e na casa para manter tudo limpo e organizado. 

— Tá dizendo que a culpa foi minha? — sussurrou, a pergunta saindo rasgando sua garganta. 

Amélia riu, riu como se aquilo fosse um espetáculo gratuito.

— Ele quem me procurou, tá? Só pra você saber — disse ela, com orgulho venenoso. — E eu não faço caridade. Se ele veio, é porque tava afim. Como ele memso disse, tava precisando de uma mulher de verdade. 

A ruiva não respondeu, o que diria? A humilhação queimava em seu peito como fogo sua própria irmã e seu noivo? Estava com ódio de Justin, mas o sabor amargo da traição da única família que ela tinha era o pior… 

Sem dizer nada, virou-se e saiu pela porta, ignorando os gritos e pedidos de Justin, ignorando o riso satisfeito de Amélia. Correu como se sua vida dependesse disso, a rua se tornou um borrão diante de seus olhos, o vento gelado cortando sua pele, o som de seu próprio choro misturado ao barulho distante dos carros. Ela não sabia para onde ia, só precisava fugir.

Da casa.

Da traição.

Deles.

Dela mesma.

As ruas ficavam cada vez mais vazias conforme ela seguia, os prédios dando lugar a estrada e, aos poucos, à linha escura da floresta que margeava a cidade. Nem sabia quanto tempo tinha corrido, não precisava saber, não sabia pra onde ia cogitava pegar o proximo ônibus para a cidade vizinha sumir um pouco, esquecer que aqueles dois existiam. 

— Desgraçados! — gritou, para o nada chutando uma pedra no meio do caminho. — Malditos é isso que eles são! Como ela pode? 

Foi então que ouviu um estalo que atraiu seus olhos verdes e cheios de lágrimas para a mata. Depois outro. Folhas se movendo… rápido demais para ser o vento.

Liana parou, arfando, o coração acelerado não apenas pela corrida, mas por um instinto primitivo que não sabia nomear. Tinha algo errado.

Virou-se devagar.

E viu, entre as sombras da floresta, duas brasas vermelhas brilhavam, olhos.

Então o resto da criatura emergiu, um lobo colossal, imenso, com pelagem tão vermelha quanto sangue recém-derramado. A respiração quente saía como vapor no ar frio, os músculos tremulando sob o pelo denso. 

Era grande demais. 

Forte demais.

O animal deu um passo.

Depois outro.

Focando nela como se fosse uma presa.

Liana sentiu a alma congelar.

Depois ele rosnou.

— N-não… — ela sussurrou, recuando. — Não… cachorrinho, por favor…

O lobo avançou.

E a ruiva fez a unica coisa que conseguiu… Voltou a correr, disparando para a floresta à sua frente.

Galhos arranhavam sua pele, pedras machucavam seus pés, mas nada disso importava. O som das patas pesadas atrás dela fazia o sangue gelar nas veias. Ele estava perto demais. Rápido demais. O lobo saltou, cortando o ar a centímetros dela e Liana caiu se agarrando a uma raiz mais alta enquanto sentia os dentes do lobo se prenderem a barra de sua calça a puxando com toda força. 

— Socorro! — berrava a plenos pulmões mas quem a escutaria ali e ainda a noite? 

No desespero, ela chutou o focinho do lobo que a soltou por um segundo mas foi o suficiente para ela voltar a correr mais uma vez. Correu até os pulmões queimarem, até a garganta arder, até o corpo quase ceder. Mas o lobo estava atrás dela, incansável, feroz, determinado.

E então…

Saiu da mata direto para a pista.

Um ônibus vinha numa velocidade absurda.

Uma buzina soou, alta o bastante para deixar ela ainda mais confusa e assustada. Liana congelou, o farol iluminando seu rosto, as mãos dela pressionadas contra os ouvidos por causa do som alto da buzina.

O ônibus derrapou, freando com um grito agudo dos pneus, parando a centímetros dela. O motorista colocou a cabeça para fora pela janela, pálido.

— Moça! Tá maluca?! Você quase morreu!

Ela virou-se para trás.

O lobo estava na borda da mata, as presas expostas, os olhos vermelhos fixos nela. Se desse mais um passo… Mas quando o motorista desceu e se aproximou, ele apenas rosnou mais uma vez, sumindo na mata.

— Para onde… — a voz dela falhou, não podia ficar ali, mas também se recusava a voltar para casa. — Para onde esse ônibus vai?

O motorista ainda tentou olhar para o mato, mas o lobo já havia desaparecido, como se nunca tivesse existido.

— Storm City — respondeu ele, ainda nervoso. — Última viagem da noite.

Storm City.

Longe de Justin.

De Amélia.

Da vergonha.

Do coração partido.

Do lobo.

De tudo.

— Eu… eu quero ir — disse ela, a voz trêmula. — Por favor, eu preciso ir.

— Tem dinheiro? — perguntou o motorista.

Ela enfiou a mão no bolso, tirando algumas poucas notas amassadas.

Era tudo o que tinha.

— Isso dá? — sussurrou.

Ele hesitou, olhou para ela de cima a baixo, suada, chorando, com folhas presas no cabelo, as mãos arranhadas, barra da calça rasgada, tremendo como se tivesse visto um fantasma.

Depois suspirou.

— Entra logo antes que eu mude de ideia.

Liana subiu a escada quase tropeçando. Sentou-se na primeira poltrona vazia, apertando o cinto com mãos trêmulas. Quando olhou pela janela, a floresta parecia viva.

Observando.

Esperando.

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