Ponto de vista de Maximus.
— Você dormiu com ela, não foi? — Estávamos no escritório quando Bianca fez essa pergunta. — Isso não te diz respeito — respondi seco. — Claro que diz. — Retrucou ela. — Tínhamos terminado a porra do noivado porque você estava trepando com aquele ator com quem você contracenou. Não era apenas a cena de sexo na novela que me incomodava, mas o encontro que ela teve com aquele farabutto. — Quem de nós é um ser humano exemplar, querido? Você também estava trepando com a babá da sua sobrinha. — Vai embora, Bianca. — Não posso! Temos que honrar o acordo feito entre as nossas famílias. — Ela o relembrou. Na aristocracia, os casamentos arranjados eram utilizados como alianças estratégicas para fortalecer laços familiares, consolidar o poder e perpetuar dinastias. A decisão de quem se casaria foi tomada pelas nossas famílias. Mesmo no século atual, eu teria que manter o acordo se quisesse perpetuar e alastrar o legado dos Trevisani. — Já pensou quando os tabloides publicarem que o magnata tem um caso com a babá da sobrinha. Quer mesmo jogar o nome da sua família na lama? — Aquela constatação de Bianca soou mais como uma ameaça velada. Um toque suave na porta nos interrompeu. — O que foi? — Gritei, irritado. — O detetive Rivera está aqui, senhor… — a voz da governanta ecoou do outro lado. — Mande ele entrar. Mantendo a pose elegante e aquele olhar que atravessava a alma, Bianca continuou me analisando. — Falamos sobre isso depois… — Como quiser, querido. — Enviou um beijo no ar e saiu. Assim que abriu a porta, ela cruzou com o detetive, que a cumprimentou com sorriso polido. — Entre e feche bem a porta, detetive Rivera. — Pedi. Ponto de vista de Vitória. Na manhã em que fui chamada ao escritório, soube que algo havia acontecido. Todos os funcionários estavam tensos. Maximus estava com o semblante mais duro do que nunca. E Bianca estava sorrindo como se tivesse vencido alguma guerra secreta. — Na noite do acidente de Helena, as joias da minha irmã desapareceram — ele disse, olhando direto nos meus olhos. — Como as jóias sumiram do cofre que só Helena tinha acesso. Meu coração errou uma batida. — E o que tenho a ver com isso? — Indaguei. — Alguém deve responder pela morte da minha querida cunhada — disse Bianca, cruzando os braços. — E convenhamos, você não está aqui por caridade. Meu noivo já estava desconfiado, mas tinha que ter certeza de que era você quem estava roubando Helena. Olhei para Maximus. Ele não disse uma palavra. — Não roubei nada, senhor Trevisani — sussurrei, sentindo a garganta fechar. Mas ninguém me ouviu. — Aqui estão os recibos do colar de diamantes e dos brincos que você vendeu na loja de penhor. — O detetive Rivera mencionou. — Foi a sua irmã quem me deu quando pedi um adiantamento para pagar a dívida atrasada do hospital onde minha avó está internada. — Tentei explicar. — Tenho certeza de que foi na mesma noite do acidente. — Bianca acrescentou. No meio daqueles olhares condenatórios, encolhi os meus ombros. A única que poderia me defender era a senhora Helena Trevisani, mas já estava morta. — Não roubei… — repeti, na esperança de que Maximus acreditasse nas minhas palavras. — Há imagens da senhorita dando os três comprimidos de tranquilizantes para a irmã do senhor Trevisani. — Eram os calmantes que o médico da senhora Helena receitou… — Meus lábios tremiam quando falei. — Não há qualquer receita médica dada para aqueles tranquilizantes, senhorita. — Enfático, o detetive deu a última cartada. — Vou chamar a polícia. A babá é uma ladra e tem que ir direto pra cadeia. — A noiva do meu chefe falou como se tivesse me condenado. — Espere. — O tom gutural do senhor Trevisani a interrompeu. — Os seus serviços nesta casa não são mais necessários, senhorita Clarkei. — A voz dele era tão fria quanto gelo. — Aconselho a sair desta cidade, pois nunca mais arrumará outro trabalho por aqui. Agora, arrume suas coisas e saia da minha casa. — Mas eu… — Basta. — Ele interveio, não permitindo que eu terminasse de falar. — Saia dessa casa ou vou fazer questão de te colocar na cadeia! — As palavras ditas por ele saíram entre dentes. Naquela tarde, eu fui dispensada das minhas funções como uma engrenagem sem qualquer serventia. Nem mesmo tive a chance de me despedir da pequena Allegra. Depois que peguei minha mala, eu desci as escadas sob os olhares dos empregados que passavam por mim. Chegando ao primeiro piso, estava a caminho da saída quando senti um forte solavanco em minha perna. Olhei para baixo e vi Allegra. — Quero ir viajar com você… — a menina se recusava a me soltar. — Não posso te levar, querida. — Mas eu quero ir. — Os olhinhos castanhos já começavam a marejar. — Não quero ficar com meu tio Max. — As bochechas de Allegra estavam vermelhas quando começou a chorar. — Vem com a tia… — Bianca tentou pegá-la, mas a garotinha mordeu o braço dela. — Allegra, — O senhor Trevisani a chamou num tom mais rude. — Vá para o seu quarto. A pobre criança não tinha culpa e além de sentir falta da mãe, ela tinha que me ver partir. Queria apenas dar um abraço de despedida na menina que cuidei desde que nasce; mas se eu continuasse ali, o senhor Trevisani me mandaria para cadeia e eu não podia deixar a minha avó sozinha naquele momento tão delicado. Agachei-me e sequei o rosto da menina que não parava de chorar. — Allegra, vá arrumar sua mala, já vou subir pra te ajudar. — Forcei o riso para ludibriar a criança inocente, que acreditou e obedeceu de imediato. — O que pensa que está fazendo? — Interpelou Bianca. — Cuidem bem dela… — articulei antes de partir sem carta de recomendação e sem tempo para me defender. Apesar do medo de ser presa, eu estava me sentindo mal por ter enganado a garotinha. Dentro do carro, olhei para cima e chorei ao ter um ultimo vislumbre do quarto de Allegra.