Ponto de vista Maximus.
— Mas que merda! — Gritei, sentindo aquela porra de sentimento idiota me incomodando noite após noite. A mulher que acusei de roubo era a culpada pelos meus piores dias e eu tinha deixado ela ir ao invés de mandá-la para a cadeia. Ao contrário de mim, Bianca ainda insistia para incriminá-la e colocar a babá na prisão. — A babá é culpada, querido, você sabe disso. — Já falei que eu não quero mais tocar nesse assunto, porra! — Esbravejei. Deixei o copo em cima da mesa depois que tomei todo o uísque. Minha sobrinha não se adaptava a nenhuma babá desde que mandei Vitória embora. Allegra não ia bem nas aulas e sempre agredia a Bianca com mordidas quando tentava se aproximar para cuidar dela. — Você precisa mandar a sua sobrinha para o orfanato depois do nosso casamento. Confesso que houve dias em que realmente pensei nessa possibilidade, mas Allegra era a única lembrança viva que tinha da minha irmã. Não podia simplesmente me desfazer dela. — Tem um orfanato na Inglaterra que… — Já chega… — gritei, exasperado. Sentei na cadeira atrás da minha mesa. — Você precisa relaxar um pouco, amor. — Veio para o meu lado e se ajoelhou. — Não estou afim. — Afastei Bianca com o braço. — Está me rejeitando desde que trepou com a babá, que não passa de uma ladra sem vergonha e assassina. — Bianca ficou em pé enquanto reclamava. — Minha irmã morreu no acidente. — Coçando os olhos com a palma das minhas mãos, redargui. — Sua irmã dirigiu dopada por causa dos calmantes que a babá deu pra ela. — A voz esganiçada continuou enchendo meu saco. — Aquela mulher tem que ir para a cadeia. — Bianca, esquece isso… logo, vamos nos casar e sair desse país. Agora, deixe-me sozinho. Tenho alguns documentos para avaliar e assinar. Puxei a pasta e comecei a ler o primeiro parágrafo do documento de um prédio que havia acabado de adquirir. Ouvi a porta batendo com força, finalmente estava sozinho. Não era apenas Allegra que sentia falta da babá Mesmo sabendo que ela foi a responsável por dopar a minha irmã e por roubar as jóias, eu tinha que admitir que a ausência de Vitória também me afetava. Ponto de vista de Vitória. Nos dias seguintes, Maximus não ligou e nem mandou mensagem. Tentei me convencer de que tudo aquilo foi só uma ilusão passageira. Logo, veio os enjoos e as tonturas. Não suportava mais a náusea inexplicável que surgia pela manhã e me fazia correr até a pia da cozinha. A princípio, eu ignorei. Mas à medida que os dias se arrastavam e meu atraso se tornava impossível de negar, a verdade começou a se desdobrar diante dos meus olhos. Comprei o teste em uma farmácia em uma rua que ninguém me conhecia. Guardei o pacotinho na bolsa o dia inteiro. À noite, decidi fazer o teste e minhas mãos tremiam quando o resultado apareceu em poucos segundos. Grávida! Sentei no chão frio de azulejos, abraçando os meus joelhos, e chorei pela criança que crescia dentro de mim. Chorei pela ausência de Maximus, por não ter acreditado em mim e por ter me deixado tão sozinha no momento que mais precisei. Tentei imaginar o que ele diria se soubesse. Se riria na minha cara, já que ele me obrigou a tomar as pílulas. Talvez, ele me acusaria de estar tentando prender um homem rico com uma criança. Ou, pior, rejeitaria o bebê como se nada tivesse acontecido entre nós. Pelo visto, as pílulas que ele me deu não foram tão eficientes como o senhor Trevisani pensava. Apesar de tudo, eu não tive coragem de contar. Ele deixou bem claro que seu compromisso com a família era maior do que qualquer coisa. Aquele era o mundo onde uma mulher como eu não era bem-vinda. O telefone tocou, trazendo-me de volta a realidade. Assim que atendi, recebi a notícia que me deixou mais deprimida. Minha avó tinha partido e eu não tinha alguém que me abraçasse pra me consolar. Da janela do inóspito apartamento da periferia, eu estava chorando quando pensei no que fazer da minha vida. Eu convivia com a lembrança das noite em que me entreguei sem reservas a um homem que desapareceu como se eu nunca tivesse existido. Por vezes, eu quis procurá-lo e falar pra ele sobre a gravidez, mas o medo de ser presa ainda me consumia. Uma semana após gastar com as despesas do enterro de vó Domenica, fiquei sem dinheiro para pagar o aluguel. Cheguei a pedir ajuda pra minha madrasta, mas ela simplesmente arrumou inúmeras desculpas até contar que vendeu a casa só para ajudar a filha dela a conseguir pagar as contas em Los Angeles. — A Aurora está trabalhando num filme, logo será estrela de Hollywood. — Minha madrasta mencionou por telefone. "Deve estar trabalhando como figurante... isso sim", pensei enquanto ouvia ela me contar. Por cinco meses, continuei tentando arrumar um trabalho, mas não consegui. O meu nome estava na lista negra das agências de emprego. A acusação de Maximus Trevisani realmente manchou a minha reputação naquela cidade. Certo dia, eu andava pelas ruas da cidade em busca de trabalho até que esbarrei com o meu amigo de infância .Paul era francês e morou alguns anos em Turim, Itália, mas voltou para a França com os pais na adolescência. — Estou pensando em ir para França — comentei depois que nos acomodamos a mesa de uma pequena cafeteria. — Legal! — Paul falou e tomou uma xícara de seu café fumegante. — Se quiser, pode ficar na minha casa. — Merci, — Sorri, falando no idioma dele e então, tomei um gole do meu chocolate quente. Dias antes de viajar, eu estava andando pela rua para encontrar o meu amigo. De repente, a minha visão nublou, deixando-me um pouco tonta. Aquele era um sintoma típico da gravidez e seria só mais um mal-estar se não fosse por um carro que freou bruscamente, parando antes de bater em mim. Fiquei parada como se os meus pés estivessem fincados no chão. Um homem saiu do carro para me socorrer. Fitei a fisionomia, que se fechou numa carranca, assim que ergui o meu rosto. Ponto de vista de Maximus. Quando a reencontrei, abatida e grávida, percebi o que tinha feito. Ela não era só a ladra que, segundo as investigações, dopou a minha irmã para roubar e a deixou sair para morrer num acidente de carro. Vitória Clarke era a mulher que podia estar carregando o meu filho no ventre. — Está querendo se matar, sua louca? — Esbravejei. — Como uma mulher grávida anda tão desatenta pelo meio da rua. Os lábios dela se moviam, mas não emitiram palavras. Irritado, bufei e então, olhei para a sua mão que segurava a barriga arredondada. — Onde está o pai do seu filho? — Inquiri ao voltar a encarar os olhos tão verdes quanto uma pedra de jade. — Vitória. — Alguém me chamou do outro lado da calçada. Olhei na direção de um homem loiro, alto e olhos azuis. Paul acenou assim que me viu. — Aquele é o pai do seu filho? — Num tom ríspido, perguntei. Eu tinha que ter certeza de que aquele bebê na barriga dela era meu. Não podia permitir que aquela mulher de má índole educasse o meu filho.