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*Sophia Hale POV*

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O plano não correu bem. É o que acontece quando confias uma parte do trabalho a um homem que tem mais músculos do que cérebro. Um mês a trabalhar neste plano para este idiota estragar tudo.

Até uma criança teria conseguido fazê-lo — se não tivesse de carregar um homem com mais de cem quilos, e estou a ser simpática quanto ao peso da criatura.

Olhei novamente para o homem amarrado naquela cama, num quarto de hotel merdoso, e suspirei, frustrada. O homem era um regalo para as vistas, não podia negar... mas era o homem errado.

O homem certo era asqueroso. Não era completamente feio, mas as suas atitudes tornavam-mo asqueroso. Um daqueles que acham que são irresistíveis, que as mulheres caem todas aos seus pés — ou as rodeiam, saturam e chantageiam até cederem.

“Homem errado.” Resmunguei para o homem à minha frente. “Mostrei-te uma foto. Disse-te que estaria de casaco vermelho.”

“Ele estava na cadeira que tinha o casaco vermelho.”

“Idiota.” Atirei, perdendo a paciência.  Levei a mão ao nariz.

O plano era simples. Ele só tinha de trazer aquele homem do bar para cima para o quarto de hotel. Estava drogado, não tinha paciência para o seduzir até ele ficar bêbado, mas as pessoas à volta iriam pensar que ele estava bêbado quando fosse levado para cima.

Escolhi aquele hotel de baixa categoria porque não tinha câmaras nos sítios mais importantes. E a peruca loira ajudaria a esconder a minha identidade e agora a máscara que tinha colocado antes de entrar, completava.

O quarto estava em nome dele. Frank Donovan, o diretor da escola de Lily que a andava a assediar há quase dois mês. Ele tinha um tipo. A esposa dele era loira, sim ele era casado, e todas as mulheres que ele assediava eram loiras.

Peguei no meu telemóvel e procurei novamente a foto que lhe tinha mostrado anteriormente.

“Onde é que eles são parecidos?” Quase lhe espetei com o telemóvel na cara. “Este tem mais cabelo e provavelmente mais músculos que tu.”

Ele olhou-me em silêncio, olhou para a imagem no telemóvel e para o homem preso na cama. Era assim tão complicado?

“Posso…”

“Esquece.” Interrompi. Não ia correr o risco de ter outro plano a dar errado por confiar em idiotas. E agora tinha de tratar daquele homem errado. “Não vou pagar o que faltava até reparares o teu erro.”

“Ok.” respondeu, rangendo os dentes. “O que queres que faça?”

“E o que raios lhe deste que ele está completamente apagado?” disse apontando para o homem deitado na cama.

“Não dei nada. Já o encontrei assim.”

Ajeitei a peruca loira e a máscara. Aquele idiota estragou-me a diversão, trazendo o homem errado. Já tinha fotos dele com outras mulheres, podia arruinar-lhe a carreira e o casamento. Mas não seria mais divertido ter umas fotos dele com um homem? Fazer ele pensar que tinha acontecido algo desse tipo. Torturá-lo durante uns tempos antes de tornar público.

Olhei para o homem errado. O estranho amarrado à cama. Era uma pena, realmente.

Por um instante, esqueci-me de estar irritada. O peito dele subia e descia devagar, firme, e cada respiração fazia a camisa abrir-se um pouco mais sobre o corpo. Estava a respirar normalmente. Era um bom sinal. Só devia estar bêbado.

Estava de fato, parecia algum bancário ou empresário. Sem gravata e a camisa branca, semiaberta, dava aquela tentação de a abrir mais.

Os meus olhos percorriam-no, inevitavelmente. Ombros largos. Linhas marcadas por baixo da camisa. O género de corpo que denuncia disciplina, treino.

E aquele maxilar… Deus, aquele maxilar. A barba curta desenhava-lhe o rosto com precisão quase indecente. Tinha o ar de quem podia pedir qualquer coisa e obtê-la sem levantar a voz. Um ar masculino. Parecia pacífico a dormir. Uma espécie de diabo angelical?

“Volta a colocá-lo onde o encontraste.” Decidi.

“Mas… não é mais fácil apenas o deixar ficar e irmos embora?” O idiota tinha um ponto. O quarto estava em nome de Frank. Podíamos sair e deixar ali o homem amarrado. E se ele aparecesse a reclamar o quarto? Oh! Iria encontrar uma bela visão.

Aproximei-me da cama. E apercebi-me de algo no fundo da camisa.

“Aquilo é sangue?” Perguntei. O homem que contratei colocou-se ao meu lado. “O que é que fizeste?”

“Não fui eu!”

Sentei-me na cama e puxei a camisa. O tecido estava húmido — um corte raso que ainda sangrava.

“Não parece profundo,” murmurei. Ao abrir mais a camisa, o meu sorriso morreu: nódoas escuras já cobriam o abdómen, marcas de murros profundas. Tinham-lhe batido. Com força. Toquei-lhe levemente.

Ao afastar o tecido da camisa, algo duro roçou-me os dedos, escondido sob o casaco. Franzi o sobrolho e puxei-o um pouco. O brilho metálico cortou o ar e o sangue gelou-me nas veias.

“F.da-se.” Ouvi o homem que contratei dizer. Mal tive tempo para reagir quando a porta do quarto bateu; o idiota saiu. Covarde. Bem. Pelo menos não lhe pago mais nada.

“Covarde. Idiota.” Resmunguei em voz alta, mais alto do que devia — e, por um segundo, pareceu-me ver algum movimento do homem amarrado na cama. Mas quando olhei ele continuava de olhos fechados. Imóvel.

Uma arma. Fiquei parada um segundo, talvez dois, a tentar processar tudo. Quem andava armado assim? Polícia? Segurança? Criminoso? Seja quem fosse, não era um bêbedo qualquer que tinha acabado de ser espancado. Procurei carteira, telemóvel, qualquer pista — nada.

Olhei para a arma outra vez e depois para a ferida e para os hematomas. Estou a perder tempo. A ferida parecia superficial; não me parecia que corresse risco de vida. Mas ainda assim, ele precisava de cuidados médicos.

Pensa, Sophia! Pensa. Devia sair dali imediatamente e ligar depois para o hotel a informar que aquele hóspede precisava de assistência. Sim — era o melhor a fazer. Ponderei soltá-lo, mas lembrei-me da arma. Não. Não ia correr esse risco. Ele podia acordar comigo ainda ali.

Como é que eu acabei neste hotel merdoso nesta situação?

Não importa. Hora de ir embora.

Já tinha a mão na maçaneta quando ouvi barulho no corredor. Passos apressados. Vozes. Esperei. Depois, gritos e reclamações. Como se alguém andasse a percorrer os quartos todos. Estão à procura de alguém?

Merda. Estavam à procura dele?

Pensei em sair a correr e deixá-lo à sua sorte — não era problema meu. Mas as vozes estavam perto. Demasiado perto. A minha consciência, traidora, gritou alto demais. Revirei os olhos e agi por instinto.

Tirei ali mesmo os meus sapatos de salto alto para não fazerem barulho e corri até à cama. Puxei o vestido justo preto até o tirar pela cabeça, atirando-o para o chão, e sentei-me sobre ele, uma perna de cada lado da cintura. Fechei a camisa dele, tapando os hematomas e o corte. Puxei os lençóis até à minha cintura, cobrindo o resto.

O cartão passou na fechadura. Ouvi o clique. Senti o coração acelerar. Eles estavam mesmo ali. Inclinei-me sobre ele, colocando as mãos de cada lado da sua cara, tapando-a quase por completo.

Fechei os olhos por um segundo, respirei fundo e... soltei um gemido de prazer — falso, mas convincente o suficiente para fazer corar um padre.

Mexi-me como se realmente estivesse a montá-lo. A porta abriu-se nesse exato instante.

“Oh, baby… sim… isso… estou quase!” Soltei outro gemido e olhei para a porta com fingida surpresa quando ela bateu contra a parede. Dois homens estavam parados à entrada.

“F.dasse...” murmurou um deles, olhando-me de cima a baixo como se tivesse pagado para assistir.

“Agora que já viram, fechem essa merda… seus estraga-fodas.” Rosnei, fingindo irritação e ajeitando o lençol como se realmente estivesse no meio de algo.

“Que foda.” Ouvi o outro dizer antes de fecharem a porta rapidamente. Ouvi as gargalhadas deles também.

Suspirei de alívio e sorri. Tive de me conter para não soltar uma gargalhada — não podia correr o risco de eles ouvirem.

Mas o alívio durou pouco.

Senti algo duro entre as minhas pernas, pressionando o meu centro. Olhei para baixo. Uns olhos verde-acastanhados fitavam-me. E neles, uma aura fria. Perigosa.

Merda.

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