O gosto do suco de laranja era doce e levemente ácido, e escorria frio pela garganta, me despertando mais do que o café da manhã seria capaz. Eu estava sentada na poltrona que ficava encostada perto da janela do quarto do bebê, uma das minhas mãos sobre a barriga e a outra segurando o copo gelado. Clara, ao meu lado, observava o ambiente com aquele olhar crítico e carinhoso que ela sempre tinha.
— A gente precisa colocar alguma coisa nessa parede aqui — ela apontou, fazendo um gesto amplo. — Talvez prateleiras. Ou quadros de bichinhos. Fica muito vazio só com o berço, Char.
Assenti com um sorriso discreto. Era verdade. O quarto ainda parecia inacabado, mesmo com o berço já montado no centro, de madeira clara, novinho, com um móbile de nuvens pendurado. Havia vida ali. Mas ainda faltavam os detalhes. Os toques de alma.
— Eu ainda tô digerindo tudo, sabe? — disse, olhando em volta. — Às vezes parece que tudo isso é um sonho. Um sonho silencioso, meio embaçado… mas real.
Clara me lançou