O dia começou cedo demais. Vivian acordou com a sensação de ter dormido aos pedaços, como quem monta um mosaico com as mãos trêmulas. No calendário, um círculo em vermelho: exame de controle da Mariana às 14h. No celular, três mensagens: uma de Gaia (“rota alterada, passo às 17h pra te levar”), outra do gerente (“ajuste de agenda, confirmada presença às 22h15”), e uma terceira de número desconhecido: “Podemos conversar? Discrição garantida.” O corpo reconheceu o cheiro da ameaça antes dos olhos.
Na cozinha, tia Marlene mexia o café com a calma de quem economiza passos. — A menina dormiu bem — disse, baixo, como se a casa pudesse acordar por excesso de som. — Mas eu queria falar… esse dinheiro que aparece e some, Vivian… é muita instabilidade. Eu não sei de onde vem, e não quero saber se for pra te perder. — A frase ficou pairando, uma rede esticada entre as duas.
Vivian respirou fundo. — Eu tô tentando que nada falte. É só isso.
Marlene pousou a colher, encarou a sobrinha com uma de