O clube amanheceu com cheiro de poeira úmida, como se a noite tivesse lavado os corredores por dentro. Vivian chegou cedo, cabelo preso em trança baixa, o rosto quase nu. No camarim, abriu o caderno e escreveu: “Não é a inveja que me assusta, é a sombra que ela traz.” A palavra sombra ficou maior do que as outras, como se quisesse ocupar a página. Fechou o caderno e o guardou no bolso interno do casaco. “Hoje, sem vitrine”, decidiu.
Gaia entrou sem bater, blazer escuro, celular de guerra no bolso, passos de quem mede o terreno. — Fiquei olhando as câmeras do corredor de serviço — disse, direto. — Tem gente que passa duas vezes pelo mesmo ponto e não trabalha aqui. E ontem, Camila cochichou com o adjunto na hora errada. Quero saber o que ela anda vendendo em voz baixa.
Vivian respirou, ancorou os ombros. — O veneno dela é inveja. Mas quem compra o frasco é outro.
— Exato — respondeu Gaia. — Por isso hoje você vai me obedecer em tudo. Nada de corredor sozinho, nada de elevador sem minha