O silêncio em Kaerdum era diferente do silêncio do mundo da superfície. Ali, ele não era vazio — era atento. Cada gota de água que escorria pelas pedras, cada raiz que se esticava entre os salões, parecia escutar.
Haviam se passado dias desde que as primeiras notícias sobre Thariel chegaram até ali. Kaerdum sentia o que a terra sentia.
E agora, nas galerias centrais, o povo se reunia mais uma vez.
No alto da escadaria da praça espiralada, Mirna — a mulher de olhos âmbar, cabelos prateados curtos e tatuagens vivas — erguia-se como uma estátua moldada pela própria vontade.
— O que aconteceu lá em cima... não pode mais ser ignorado. — disse, a voz cortando o murmúrio como uma lâmina. — Thariel sangra. E nós... ouvimos cada grito.
Alguns recuaram, assustados. Outros sussurraram objeções.
— E o que podemos fazer? Se subirmos... morreremos. Elias sente tudo. Ele vê. Ele caça. — disse um dos anciãos, voz trêmula.
Mirna apertou os olhos, os dedos trêmulos sobre o corrimão de pedra entalhada.