O vazio engoliu Vermon. Atravessar o portal não era como cruzar uma porta. Era ser arrancado da própria existência, ter os ossos esticados, as memórias dobradas, os sentidos desmontados e remontados sob uma lógica que não era deste mundo.
Por alguns segundos — ou foram horas? dias? — não existiu chão, nem céu, nem corpo. Apenas um grito sem som atravessando a eternidade. Até que, com um estalo que reverberou na própria alma, seus pés tocaram algo sólido.
O cheiro veio primeiro. Não era apenas podridão. Era o cheiro de coisas que nunca deveriam ter existido, de carne que nunca foi viva, de ossos que jamais pertenceram a qualquer criatura. Era cheiro de passado corroído e futuro abortado.
Diante dele, erguia-se a Cidadela das Sombras.
Um colosso flutuando sobre o nada. Torres retorcidas, espirais de ossos, plataformas suspensas por correntes negras que não se prendiam a lugar algum. As paredes eram feitas de pedra, carne e metal — fundidos, como se o próprio tecido da realidade tivesse