O jantar chegara ao fim entre louvores à família, pratos vazios e taças quase secas. As risadas ainda ecoavam pelos salões da sede principal, como ecos de um mundo que fingia ignorar o que se passava nas sombras. Mas os olhos de João não viam nada disso. Eles viam apenas Amanda.
Ela conversava com Ana e Otávio, a postura impecável, os gestos calculadamente suaves, o sorriso que encantava — e ao mesmo tempo mantinha os outros a uma distância segura. Uma muralha feita de charme e precisão. Mas João a conhecia. Conhecia o tremor leve em seus dedos quando estava inquieta. Conhecia a pausa prolongada antes de um sorriso verdadeiro. E naquela noite... havia algo diferente. Uma tensão contida, como um fio prestes a romper.
José se aproximou do irmão e murmurou com aquele tom de quem disfarça preocupação com ironia:
— Vai com calma, maninho. Ela não vai fugir.
João forçou um sorriso. Mas seus olhos, duros e escurecidos, diziam outra coisa.
— Eu só preciso falar com ela.
E então foi.
Atravesso