Amanda ajeitava os cabelos rapidamente diante do espelho lateral. A blusa estava um pouco desalinhada, e o batom havia sumido. João ainda estava recostado no sofá, recomposto, mas com os olhos carregados de algo que não se dizia em público.
— Preciso voltar a trabalhar. — Amanda sussurrou, tentando recuperar o controle da própria respiração.
João assentiu, caminhando até a porta. Ia sair sem dizer mais nada, quando…
A maçaneta girou.
Sem aviso, Clara entrou.
— Desculpe, achei que... Amanda, você está ocupada?
Amanda se virou de súbito, surpresa, mas com o olhar frio e preciso. João permaneceu onde estava, o maxilar tenso.
— Clara, normalmente se bate à porta.
— Eu sou da família, ou já não sou mais? — retrucou Clara, com o olhar cravado em João.
O silêncio que se instalou era espesso como neblina no inverno russo. Clara deu mais dois passos, seu jaleco ainda mal dobrado no braço, os olhos analisando cada detalhe da sala: os botões da camisa de João desalinhados, o cabelo de Amanda um