Cecília Wortin encarava o espelho com o olhar fixo, perdido.
O vestido branco pendia em um cabide dourado à sua frente, refletido no vidro como uma promessa distante.
A costureira falava alguma coisa sobre ajustes na cintura, mas ela mal ouvia.
— Senhora Wortin? — perguntou a mulher, hesitante. — Deseja que apertemos mais aqui?
Cecília piscou devagar, voltando à realidade.
— Não… está perfeito — respondeu, sem convicção.
Perfeito.
A palavra soava vazia, quase cruel.
Nada estava perfeito.
Nem mesmo o casamento que ela sonhara por tanto tempo.
A costureira recolheu o tecido e saiu discretamente, deixando-a sozinha.
Cecília suspirou e passou a mão pelos cabelos loiros, já soltos, os dedos tremendo de leve.
Nos últimos dias, tudo parecia escapar do seu controle.
Felipe não ligara.
Não perguntou sobre os preparativos, nem sobre o vestido, nem sobre nada.
Nenhum gesto. Nenhum olhar. Nenhuma faísca.
Ela mordeu o lábio, sentindo o gosto de ferro do batom vermel