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Capítulo 6 – O Chamado da Lua

Naquela noite, o vento sussurrava cortante pelas frestas da mansão Ashworth, arrastando consigo o aroma salgado e revolto do mar e a doçura sufocante do jasmim que abraçava a sacada como dedos invisíveis, frios e traiçoeiros. A lua cheia dominava o céu escuro — um olho prateado, voraz e impiedoso — derramando luz sobre o rosto pálido de Mia Ashowrth, filha de Elizabeth Ashworth, enquanto ela dormia profundamente, alheia ao mundo.

A voz começou “ Mia…”

Mas algo antigo, poderoso e invisível se agitava nas sombras. Uma voz, ou melhor, um chamado, rasgava o silêncio da noite, não em palavras comuns, mas em vibrações que penetravam a mente e o corpo de Mia. Não era apenas a palavra “Mia”; era um sussurro contínuo, arrastando-se pelo quarto, pelos ossos, pela essência, como se o próprio universo estivesse chamando:

“Desperte… a hora chegou”

O som percorria o ar e vibrava dentro dela, uma urgência impossível de ignorar. Era uma ressonância que nascia nas sombras, uma frequência ancestral que não chegava pelos ouvidos, mas sim pela alma, ecoando em cada fibra do seu ser. A voz não tinha rosto, nem corpo, apenas a certeza clara e fria de que algo enorme estava prestes a acontecer. Mia se remexeu na cama, a testa grudenta de suor, o coração martelando contra as costelas como um pássaro preso, sem conseguir abrir completamente os olhos, presa no limbo entre o pesadelo e a realidade.

“ Mia… é hora do seu despertar” a voz sussurrava, um fio de som que se enrolou em sua mente, arrastando-a para a consciência.

Um formigamento intenso começou na ponta dos dedos, subiu pelos braços e explodiu no peito em uma dor tão aguda que ela mal podia respirar. Era uma dor que não poderia ser apenas física — era como se seu corpo estivesse sendo rasgado, desmontado e remontado simultaneamente.

Um grito abafado se formou em seus lábios, mas a garganta parecia fechada, recusando-se a deixá-lo sair. Então, de repente, o grito explodiu, um urro primal, bruto, desesperado que parecia partir a própria alma.

Ela caiu de joelhos, os ossos estalando com o impacto contra o chão de madeira nobre. As unhas se afiaram e cravaram no piso, arranhando a superfície, deixando sulcos profundos e irregulares. O som dos arranhões ecoava pela sala, assustadoramente animal.

— “Mia? O que está acontecendo?!” — A voz trêmula de Chloe soou da porta, sua irmã mais velha, que entrou apressada e pálida, o rosto marcado pelo medo.

Antes que Chloe pudesse se aproximar, Theo avançou, um rosnado baixo escapando de sua garganta. Os olhos normalmente castanhos agora brilhavam com dourado selvagem, e seu corpo estava tenso como uma corda pronta para arrebentar.

— “Fique longe!” — avisou, a voz carregada de instinto feroz — “Pode te machucar!”

Mia olhou para suas mãos. Elas não pareciam suas. Os dedos se retorciam, a pele se rompendo em cortes finos, escorrendo um líquido escuro que manchava os lençóis de branco e vermelho.

Cada onda de dor que a atravessava fazia seu corpo estremecer, e seus ossos pareciam estalar, quebrar e alongar-se de maneira horripilante e irrevogável. A metamorfose era um suplício que consumia tudo: corpo, mente, alma.

— “Mãe… pai… ajuda…” — Sua voz não era mais a de uma menina, mas uma combinação gutural e profunda, eco de um animal ancestral preso numa prisão de carne e sangue. Seus lábios se abriram em um rictus feroz, revelando dentes afiados que cresciam rapidamente, transformando sua boca numa arma.

Cada grito reverberava, uma explosão de poder selvagem que fazia o quarto estremecer. Móveis se estilhaçavam, espelhos se quebravam em fragmentos que caíam como chuva cortante. O ar parecia vibrar e rachar.

Elizabeth Ashworth apareceu na porta, um vulto desesperado, os olhos dilatados e o rosto pálido. Estendeu as mãos, mas uma aura prateada, brilhante e intensa, pulsava em torno de Mia, repelindo qualquer aproximação.

— “Alaric! Alaric, venha rápido! Mia está… ela está…” — a voz de Elizabeth quebrou, engasgada pelo desespero.

Ela caiu de joelhos, impotente, assistindo à filha que se transformava diante de seus olhos, cada segundo uma tortura.

Mia ergueu os olhos, e neles havia agora duas luas prateadas, frias, selvagens — a marca de Mika, a loba ancestral que despertava em sua essência.

Um uivo, puro e dolorido, explodiu da garganta de Mia, um lamento que fez o chão tremer, as árvores ao redor se curvarem como se feitas de papel, o mar respondeu em um rugido primal.

De repente, a porta explodiu em estilhaços.

Nathanael Blackwolf, o alfa da alcateia, entrou. Sua presença era como uma tempestade encarnada, seu olhar azul cortava o caos com fúria selvagem. Ao seu lado, Alaric Ashworth permanecia estático, o horror gravado em seu rosto.

— “Alaric, o que está acontecendo…?” — a voz de Natanael soava incrédula, mas os olhos já denunciavam que esperava algo assim.

Ele engoliu em seco, a respiração pesada, e continuou: — “Bryan também está em transformação…”

Um instante de silêncio denso antes dele gritar, com autoridade que fazia o chão tremer: — “Guardas! Deltas! Levem Mia ao QG, onde Bryan está…”

Virando-se para Alaric, ele prosseguiu: — “Talvez eles… juntos, seja menos doloroso.”

Alaric concordou com a cabeça: — “Com certeza.”

O caminho para o QG da alcateia parecia um túnel onde o tempo e o espaço se curvavam diante da força que emanava de Mia e Bryan. Cada passo era pesado, como se o próprio chão absorvesse o poder bruto que pulsava em suas veias, um poder que nunca deveria ter despertado tão cedo.

Os guardas e deltas formavam um corredor silencioso, olhos arregalados, corpos rígidos, sentidos aguçados como presas sentindo a presença de uma tempestade prestes a desabar.

O caminho para o QG da alcateia parecia um túnel onde o tempo e o espaço se curvavam diante da força que emanava de Mia e Bryan. Cada passo era pesado, como se o próprio chão absorvesse o poder bruto que pulsava em suas veias, um poder que nunca deveria ter despertado tão cedo.

Os guardas e deltas formavam um corredor silencioso, olhos arregalados, corpos rígidos, sentidos aguçados como presas percebendo a presença de uma tempestade prestes a desabar.

Quando a porta do QG se abriu, um silêncio absoluto tomou conta do ambiente — como se o ar houvesse sido sugado, deixando apenas a essência de algo primordial.

Mia foi colocada ao lado de Bryan, sobre os tatames usados nos treinamentos. Eles se contorciam ferozmente, ossos estalando e se esticando, sangue e suor se misturando, transformando-se em pelos e garras que emergiam de suas formas humanas.

As mães, Elizabeth e Babi, assistiam apavoradas, incapazes de conter o medo que crescia dentro delas. O impossível acontecia diante de seus olhos: os filhos despertavam precocemente, a essência ancestral infiltrando-se em suas formas ainda jovens. Cada grito reverberava pelo QG, estremecendo o chão, o ar, e até o mar lá fora.

E então ela surgiu.

Mika.

A loba interior de Mia emergiu das sombras com uma presença quase sobrenatural. Sua pelagem branca-prateada refletia a luz da lua, com sutis tons arroxeados que pareciam pulsar, vibrando em sintonia com a própria alma da alcateia. Os olhos de Mika eram um espetáculo à parte: azul profundo com nuances arroxeadas, cintilando como uma constelação inteira, frios e majestosos, mas carregados de sabedoria ancestral. Cada movimento seu exalava poder, elegância e força primitiva, deixando todos sem fôlego.

Mika não era apenas a loba interior de Mia — ela representava a primeira Sigma, a força pura e a ligação direta com a essência da lua e da natureza selvagem.

Mas antes que qualquer um pudesse recuperar o fôlego, um rugido profundo e grave rasgou o silêncio.

Bones.

Maior do que todos os lobos já vistos, surgia Bryan transformado. Não mais humano, nem metade — mas completamente lobo. Um lobo cinza colossal, músculos ondulando sob uma pelagem densa e impenetrável. Seus olhos brilhavam com fogo antigo, feroz e indomável, carregando a promessa de poder e autoridade. Cada passo que dava fazia o chão vibrar, um terremoto silencioso anunciando a presença de uma força titânica.

Os outros lobos recuaram, caindo de joelhos, sentindo o impacto de uma energia que não podia ser ignorada. Bones era uma entidade à parte, um colosso imponente que transcendia tudo o que a alcateia já conhecera.

Mika virou-se para ele, suas presenças entrelaçando-se como lua e sombra, dois lados de uma mesma força primordial.

Naquele instante, a alcateia sentiu que um novo capítulo havia começado — uma era dominada por esses dois gigantes, que haviam rompido regras, dor e tempo, nascendo não apenas como lobos, mas como lendas vivas.

O poder que emanavam ultrapassava qualquer limite conhecido — uma força ancestral tão intensa que reverberava como um trovão silencioso por toda a Terra. Animais selvagens pararam seus passos, o vento hesitou, e até o mar respondeu com ondas que se erguiam em reverência.

Era o poder primitivo, bruto, a essência viva da lua e da terra pulsando em uníssono, algo que não se manifestava há séculos.

Os lobos da alcateia, ajoelhados, sentiam o peso no peito, a energia que não podia ser ignorada nem contida — um chamado para algo maior, para um novo destino.

O mundo inteiro parecia prender a respiração diante daqueles dois gigantes: Mika, a Sigma prateada com tons arroxeados e olhos como uma constelação inteira, e Bones, o lobo cinza titânico — marcando o início de uma era que mudaria para sempre o curso da alcateia e do próprio planeta.

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