Capítulo 7 – Prisão

Três anos se passaram desde que Mika despertou em Mia e, nesse tempo, o que ela tinha com Bryan desmoronou devagar. Depois da primeira vez deles, do acidente, do sangue e do medo, ele nunca mais foi o mesmo. O carinho virou distância. A cumplicidade virou silêncio. O amor… virou um nó que Mia carregava sozinha.

E naquele Dia dos Namorados, isso doía mais do que nunca.

O refeitório estava lotado quando ela entrou — risos, casais, flores encantadas flutuando no ar. Tudo brilhava, menos ela. Mia sentou com as amigas, mas o peito já estava apertado desde o momento em que viu Bryan do outro lado da mesa. Ele nem se deu ao trabalho de cumprimentá-la.

Selena Starlight , uma das melhores amigas de Mia, deu um gritinho animado:

— Gente, to tão animada , o Henry alugou um iate! — Selena explodiu, gesticulando. — Vamos fazer um passeio hoje à noite, lua cheia, música…

— Aí sim — Yasmin sorriu. — O Henry caprichou.

Yasmin Donavan riu, balançando a cabeça:

— Onde acha homens assim, hein? Porque no meu clã tá faltando estoque…

Antes que alguém pudesse responder, Seth Blackwolf — filho de Rickon, primo de Bryan, e conhecido por ser o flerte ambulante da família — deslizou atrás dela com a desenvoltura de quem já nasceu seguro demais.

Ele passou o braço pelos ombros de Yasmin com naturalidade cheia de graça.

— Eu tô bem aqui, gatinha. Que tal, eu e você hoje à noite hein? — perguntou, arqueando uma sobrancelha com aquela malícia leve que sempre arrancava risos.

Yasmin ficou vermelha na mesma hora.

Tentou disfarçar com uma risadinha, mas o jeito que ela apertou os lábios e desviou o olhar denunciava tudo:

ela gostou. E muito.

Selena cutucou Mia por baixo da mesa, abafando uma risada.

E por um breve segundo, Mia até conseguiu sorrir — até lembrar que, pra ela, aquele dia não tinha nada de mágico.

Selena virou pra ela, curiosa:

— E você, Mia? O Bryan preparou o quê?

O garfo tremeu na mão dela.

— Eu… acho que nada — respondeu baixinho.

A mesa congelou.

Dá pra sentir quando o clima muda.

Foi então que Leo Ashworth chegou, alto e barulhento como sempre:

— E aí, Bryan? Quais os planos românticos do casal do ano?

Foi a sentença.

Bryan virou o rosto devagar, como se obedecesse a um movimento mecânico. Olhou pra Mia com calma clínica, avaliando. Não havia calor ali — apenas a mera observação de algo que incomodava. Mia sentiu o estômago apertar, as mãos ficarem frias.

Mika sufocou um choro e depois se calou, porque chorar em público não era uma opção.

E, com a maior frieza do mundo, disse:

— Nada especial. Não há o que comemorar, Leo. A marca da Lua nos uniu, mas não nos deu escolha. Amor e romance? Não existe. Só há obrigação. Hoje é apenas um dia comum!

O ar sumiu.

Mia sentiu o estômago despencar.

Tudo na mesa se silenciou pela dor que queimou por dentro.

Mika chorava.

Mia sentiu os olhos marejarem, o peito doer.

Ela apenas abaixou o olhar e engoliu o choro.

O silêncio ainda pesava quando Leo bateu a bandeja na mesa.

— Não é porque vocês foram obrigados a ficar juntos que isso vira desculpa pra tratar a minha irmã assim, Bryan — ele disse, a voz firme, os olhos queimando de raiva.

Bryan ergueu uma sobrancelha, mas não respondeu.

E foi aí que Lívia Ashworth — sempre impecável, sempre colada ao lado de Bryan como sombra que ninguém pediu — abriu a boca, sorrindo com veneno:

— Ele só está sendo honesto, Leo. Se não há amor, ele não tem obrigação nenhuma de fingir. Deixe o Bryan em paz.

Mia encolheu na cadeira. A situação só piorava.

Aquela frase doeu mais que a de Bryan.

Leo virou para a irmã como se tivesse ouvido uma blasfêmia.

— Cala a boca, Lívia. — O tom dele fez a mesa inteira tremer. — Não importa o quanto você tente, não importa o quanto se pendure nele… Bryan e Mia vão continuar sendo um par. Você querendo ou não.

O sorriso dela sumiu.

Bryan estreitou os olhos.

E Mia queria desaparecer.

O clima ficou tão tenso que até as flores encantadas pararam de se mover.

Sara Montserrat, que raramente se metia em briga, soltou de repente:

— Eu, no seu lugar, teria vergonha, Lívia. Ficar entre um Alfa e uma Luna predestinados é uma vergonha.

Foi como jogar gasolina numa fogueira.

Mia sentiu o coração acelerar.

A cada troca de farpas, a mesa parecia diminuir, o ar ficava mais pesado.

A discussão crescia como uma onda prestes a engolir todo mundo — e ela era o alvo no meio disso. O pânico apertava o peito, os dedos tremiam no garfo, a respiração ficava curta demais.

Ela queria sumir.

Queria desaparecer dali antes que tudo ficasse pior.

Então Bryan soltou a voz.

Grave.

Firme.

Cheia de autoridade Alfa.

— Vergonha quem está passando são vocês — ele disse, olhando cada um como se estivesse julgando. — Eu já falei que eu e Mia só estamos juntos por obrigação política. Nada mais.

Foi cruel.

Cruel demais.

O som seco do soco de Leo na mesa cortou o ar.

O refeitório inteiro se virou.

Os olhos cor de whisky dele queimavam como brasa viva.

Ele enfrentava Bryan de igual pra igual — mesmo sendo beta, mesmo sabendo o risco.

— Repete, Bryan! — ele rosnou, inclinando-se sobre a mesa. — REPETE, SEU LIXO! Eu juro, eu QUEBRO você aqui!

Antes que a briga explodisse de vez, Mia agiu.

Ela segurou as mãos de Leo com força, os dedos frios de tanto nervoso.

— Leo, por favor… — a voz dela saía trêmula, desesperada. — Não faz isso. Tá tudo bem, tá? Por favor… por favor…

Os olhos dela suplicavam.

Ela mal conseguia respirar.

Leo olhou para Mia, viu o desespero estampado nela — e a raiva dele virou algo ainda pior: dor.

O clima já estava insuportável.

Mia tremia segurando as mãos de Leo, tentando impedir que tudo virasse uma guerra.

E foi aí, exatamente aí, que Axel apareceu.

Axel Blackwolf — o caçula dos trigêmeos, sorriso de encrenca, olhos que sempre se acendiam quando olhavam pra ela.

O único que nunca fez questão de esconder o interesse.

Ele se apoiou na mesa com aquele jeito provocador de sempre.

— Ora, ora… não precisa brigar, né? — disse, olhando primeiro pra Leo, depois pra Bryan, e por fim… direto para Mia. — Se ele não quer tem quem queria você bebê. A voz dele era sedosa.

Ele inclinou o corpo na direção dela, tão perto que Mia recuou na cadeira.

— Que tal passar a noite comigo, Gatinha? — A voz dele veio baixa, quente, descaradamente ousada. — Prometo que você não vai se arrepender. Romance e satisfação são garantidos, bebê.

E então piscou pra ela.

A mesa inteira prendeu a respiração.

O refeitório silenciou como se alguém tivesse desligado o mundo.

Mia congelou.

Leo arregalou os olhos.

Lívia empalideceu de pura raiva.

E Bryan…

Bryan virou devagar.

Os olhos dele encontraram os de Mia — e o que ela viu ali fez tudo dentro dela gelar.

Era fúria.

Fúria crua, viva, assassina.

Um aviso mudo, cortante:

“Se você responder… vai se arrepender.”

O ar entre eles tremeu.

O poder dele pulsou no ambiente como um trovão prestes a cair.

Ninguém respirava.

Mia sentiu Mika dentro dela se curvar como se tivesse visto um predador maior que todos os outros juntos.

O mundo inteiro pareceu parar.

E ali, entre o convite indecente de Axel e o olhar brutal de Bryan, Mia percebeu que estava presa no meio de uma guerra que ela nunca pediu pra participar.

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