Um ano desde que Mika despertou em Mia, e desde aquele momento, sua vida se transformou em uma prisão invisível. No início, depois da transformação, tudo parecia estar indo bem entre ela e Bryan; havia cumplicidade, carinho e a sensação de que, mesmo em meio a tudo, eles ainda tinham um ao outro. Mas, aos poucos, o mundo ao redor apertava. Mais pressão. Mais deveres. Mais treinamentos. Mais vigilância. Eles estavam sendo constantemente observados, como se cada gesto precisasse passar por um crivo silencioso.
Apesar de tudo, Mia ainda podia contar com Bryan — até que, no meio do caminho, algo mudou. Ele mudou completamente com ela. O que antes era parceria e apoio, começou a se distanciar, deixando lacunas silenciosas onde antes havia conexão. Isso aconteceu bem depois da primeira vez deles, Bryan não mediu a própria força e Mia quase perdeu a vida por isso, depois desse episódio ele mudou com ela. Mia vivia um ciclo exaustivo de treinamentos e vigilância constante, carregando uma bomba-relógio dentro de si, com seu poder desconhecido e potencialmente perigoso. O medo silencioso daqueles que a cercavam transformava Mia numa figura isolada, temida e, ao mesmo tempo, protegida. Ela era o maior segredo do mundo lupino, e a alcateia faria de tudo para permanecer assim. E pior… Mia não sabia o motivo daquela mudança repentina em Bryan, ela achava que podia ser por causa da primeira vez dele por causa de tudo que aconteceu, mais no fundo ela sentia que tinha algo mais, algo não dito, algo que estava nas entrelinhas. Não havia explicação, nenhuma palavra ou gesto que justificasse o distanciamento. Para ela, restava apenas aceitar. Aceitar o silêncio, aceitar a ausência do calor que antes existia entre eles, aceitar que, apesar de todo amor e cumplicidade que ainda sentia, algo dentro dele havia se transformado — e que ela não podia mudar isso. Bryan Blackwolf deixou de ser o jovem doce, sorridente, intenso e apaixonado que Mia conhecera. Aos poucos, ele se tornou alguém que ela não reconhecia mais — distante, frio em gestos que antes eram ternos, calculista em decisões que antes eram impulsivas, agia de propósito para machucá-la de forma calculada. O brilho nos olhos dele havia mudado, e cada sorriso que surgia agora parecia ensaiado, medido. Para Mia, restava apenas observar, tentar entender algo que escapava de seu controle, e aceitar que o rapaz que amava tinha se transformado em alguém diferente, talvez até de forma irreversível. E mesmo sem respostas, ela sabia que não podia lutar contra isso. Aceitar tornou-se sua única opção. Aceitar o silêncio, a distância, os olhares medidos. Aceitar que o rapaz que amava havia se transformado em alguém que talvez jamais voltasse a ser o mesmo. Aceitar que o peso do que ela carregava não era apenas dela — era de todos ao seu redor, e ela teria que aprender a viver com isso, mesmo que machucasse. Mia sentia esse peso todos os dias, principalmente no Instituto Acadêmico Lupino de Formação — o renomado Acadêmico do Clã e do mundo lupino, um colégio que não era apenas um ensino médio comum. Ali, os jovens lobos não aprendiam só matérias básicas; eram treinados em caça, combate, liderança, estratégias, controle do vínculo e domínio dos dons sobrenaturais. Era ali que os futuros lobos, bruxos e até humanos das alcateias se formavam jovens de várias alcateias vinham se formar ali, as vagas eram acirradas — e Mia se sentia mais presa que nunca nesse lugar onde deveria crescer e se fortalecer. No refeitório, o ambiente fervilhava com o barulho típico de adolescentes: risos soltos, conversas interrompidas, talheres batendo em pratos, bandejas sendo colocadas nas mesas. Mas para Mia, tudo parecia distante, como se estivesse num mundo paralelo, separada pelo vidro invisível do seu próprio isolamento. O Dia dos Namorados era hoje, e esse lembrete só intensificava o vazio dentro dela. Um amor verdadeiro era tudo o que ela não tinha — e talvez nunca teria. Sentada numa mesa com suas amigas, a tensão parecia pesar no ar ao seu redor. Bryan Blackwolf estava ali, no mesmo espaço, mas mais distante do que nunca. Seus olhos, frios e calculistas, estavam fixos em Lívia Ashworth, sua irmã mais velha, como sempre. E Mia sabia — ele nunca deixaria de pertencer a ela. Bryan estava ali por obrigação, como sempre estivera. Não havia espaço para paixão, nem para algo que pudesse quebrar o gelo entre eles. Selena Starlight, uma das melhores amigas de Mia, falava animada sobre seus planos para o Dia dos Namorados com Henry Blackwolf, com um brilho que só a juventude e o amor verdadeiro podem trazer. Yasmin Donavan, Sara Montserrat e Alícia Salazar também discutiam suas próprias expectativas e preparativos, todas contagiadas pela empolgação do momento com seus respectivos namorados. O coração de Mia, no entanto, se apertava com cada palavra, com cada sorriso alheio. Ela sabia exatamente o que estava por vir. Leo Ashworth rompeu o silêncio pesado que pairava sobre a mesa. — E você, Bryan, você e Mia? Quais são os planos de vocês para o Dia dos Namorados? O nó na garganta de Mia apertou, queimando. Ela sentiu o ar faltar. Antes mesmo de Bryan abrir a boca, sabia exatamente o que viria: a frieza dele, a redução do que tinham a nada. Cada palavra seria uma lâmina. Ele moveu os olhos lentamente, percorrendo Mia da cabeça aos pés, como quem avalia uma presa, medindo sua força, seu medo, sua reação. O olhar dele não era apenas frio — era calculista, predatório, impiedoso. Por um instante, Mia esperou o brilho do garoto que um dia a amou. Não veio. Bryan ajeitou a gola da camisa, tomou um gole de água, como se estivesse deliberadamente ganhando tempo para maximizar o impacto do que diria. Então, finalmente, falou. — Nada especial. Não há o que comemorar, Leo. A marca da Lua nos uniu, mas não nos deu escolha. Amor e romance? Não existe. Só há obrigação. Hoje é apenas um dia comum! O coração de Mia se apertou, a garganta queimava e um frio percorreu sua espinha — cada palavra dele era uma lâmina, deixando-a devastada e impotente diante do que ainda sentia por ele. Mika chorava dentro dela, soluços silenciosos que Mia tentava conter, denunciando a dor que consumia seu peito.