Mundo ficciónIniciar sesiónTrês anos se passaram desde que Mika despertou em Mia e, nesse tempo, o que ela tinha com Bryan desmoronou devagar. Depois da primeira vez deles, do acidente, do sangue e do medo, ele nunca mais foi o mesmo. O carinho virou distância. A cumplicidade virou silêncio. O amor… virou um nó que Mia carregava sozinha.
E naquele Dia dos Namorados, isso doía mais do que nunca. O refeitório estava lotado quando ela entrou — risos, casais, flores encantadas flutuando no ar. Tudo brilhava, menos ela. Mia sentou com as amigas, mas o peito já estava apertado desde o momento em que viu Bryan do outro lado da mesa. Ele nem se deu ao trabalho de cumprimentá-la. Selena Starlight , uma das melhores amigas de Mia, deu um gritinho animado: — Gente, to tão animada , o Henry alugou um iate! — Selena explodiu, gesticulando. — Vamos fazer um passeio hoje à noite, lua cheia, música… — Aí sim — Yasmin sorriu. — O Henry caprichou. Yasmin Donavan riu, balançando a cabeça: — Onde acha homens assim, hein? Porque no meu clã tá faltando estoque… Antes que alguém pudesse responder, Seth Blackwolf — filho de Rickon, primo de Bryan, e conhecido por ser o flerte ambulante da família — deslizou atrás dela com a desenvoltura de quem já nasceu seguro demais. Ele passou o braço pelos ombros de Yasmin com naturalidade cheia de graça. — Eu tô bem aqui, gatinha. Que tal, eu e você hoje à noite hein? — perguntou, arqueando uma sobrancelha com aquela malícia leve que sempre arrancava risos. Yasmin ficou vermelha na mesma hora. Tentou disfarçar com uma risadinha, mas o jeito que ela apertou os lábios e desviou o olhar denunciava tudo: ela gostou. E muito. Selena cutucou Mia por baixo da mesa, abafando uma risada. E por um breve segundo, Mia até conseguiu sorrir — até lembrar que, pra ela, aquele dia não tinha nada de mágico. Selena virou pra ela, curiosa: — E você, Mia? O Bryan preparou o quê? O garfo tremeu na mão dela. — Eu… acho que nada — respondeu baixinho. A mesa congelou. Dá pra sentir quando o clima muda. Foi então que Leo Ashworth chegou, alto e barulhento como sempre: — E aí, Bryan? Quais os planos românticos do casal do ano? Foi a sentença. Bryan virou o rosto devagar, como se obedecesse a um movimento mecânico. Olhou pra Mia com calma clínica, avaliando. Não havia calor ali — apenas a mera observação de algo que incomodava. Mia sentiu o estômago apertar, as mãos ficarem frias. Mika sufocou um choro e depois se calou, porque chorar em público não era uma opção. E, com a maior frieza do mundo, disse: — Nada especial. Não há o que comemorar, Leo. A marca da Lua nos uniu, mas não nos deu escolha. Amor e romance? Não existe. Só há obrigação. Hoje é apenas um dia comum! O ar sumiu. Mia sentiu o estômago despencar. Tudo na mesa se silenciou pela dor que queimou por dentro. Mika chorava. Mia sentiu os olhos marejarem, o peito doer. Ela apenas abaixou o olhar e engoliu o choro. O silêncio ainda pesava quando Leo bateu a bandeja na mesa. — Não é porque vocês foram obrigados a ficar juntos que isso vira desculpa pra tratar a minha irmã assim, Bryan — ele disse, a voz firme, os olhos queimando de raiva. Bryan ergueu uma sobrancelha, mas não respondeu. E foi aí que Lívia Ashworth — sempre impecável, sempre colada ao lado de Bryan como sombra que ninguém pediu — abriu a boca, sorrindo com veneno: — Ele só está sendo honesto, Leo. Se não há amor, ele não tem obrigação nenhuma de fingir. Deixe o Bryan em paz. Mia encolheu na cadeira. A situação só piorava. Aquela frase doeu mais que a de Bryan. Leo virou para a irmã como se tivesse ouvido uma blasfêmia. — Cala a boca, Lívia. — O tom dele fez a mesa inteira tremer. — Não importa o quanto você tente, não importa o quanto se pendure nele… Bryan e Mia vão continuar sendo um par. Você querendo ou não. O sorriso dela sumiu. Bryan estreitou os olhos. E Mia queria desaparecer. O clima ficou tão tenso que até as flores encantadas pararam de se mover. Sara Montserrat, que raramente se metia em briga, soltou de repente: — Eu, no seu lugar, teria vergonha, Lívia. Ficar entre um Alfa e uma Luna predestinados é uma vergonha. Foi como jogar gasolina numa fogueira. Mia sentiu o coração acelerar. A cada troca de farpas, a mesa parecia diminuir, o ar ficava mais pesado. A discussão crescia como uma onda prestes a engolir todo mundo — e ela era o alvo no meio disso. O pânico apertava o peito, os dedos tremiam no garfo, a respiração ficava curta demais. Ela queria sumir. Queria desaparecer dali antes que tudo ficasse pior. Então Bryan soltou a voz. Grave. Firme. Cheia de autoridade Alfa. — Vergonha quem está passando são vocês — ele disse, olhando cada um como se estivesse julgando. — Eu já falei que eu e Mia só estamos juntos por obrigação política. Nada mais. Foi cruel. Cruel demais. O som seco do soco de Leo na mesa cortou o ar. O refeitório inteiro se virou. Os olhos cor de whisky dele queimavam como brasa viva. Ele enfrentava Bryan de igual pra igual — mesmo sendo beta, mesmo sabendo o risco. — Repete, Bryan! — ele rosnou, inclinando-se sobre a mesa. — REPETE, SEU LIXO! Eu juro, eu QUEBRO você aqui! Antes que a briga explodisse de vez, Mia agiu. Ela segurou as mãos de Leo com força, os dedos frios de tanto nervoso. — Leo, por favor… — a voz dela saía trêmula, desesperada. — Não faz isso. Tá tudo bem, tá? Por favor… por favor… Os olhos dela suplicavam. Ela mal conseguia respirar. Leo olhou para Mia, viu o desespero estampado nela — e a raiva dele virou algo ainda pior: dor. O clima já estava insuportável. Mia tremia segurando as mãos de Leo, tentando impedir que tudo virasse uma guerra. E foi aí, exatamente aí, que Axel apareceu. Axel Blackwolf — o caçula dos trigêmeos, sorriso de encrenca, olhos que sempre se acendiam quando olhavam pra ela. O único que nunca fez questão de esconder o interesse. Ele se apoiou na mesa com aquele jeito provocador de sempre. — Ora, ora… não precisa brigar, né? — disse, olhando primeiro pra Leo, depois pra Bryan, e por fim… direto para Mia. — Se ele não quer tem quem queria você bebê. A voz dele era sedosa. Ele inclinou o corpo na direção dela, tão perto que Mia recuou na cadeira. — Que tal passar a noite comigo, Gatinha? — A voz dele veio baixa, quente, descaradamente ousada. — Prometo que você não vai se arrepender. Romance e satisfação são garantidos, bebê. E então piscou pra ela. A mesa inteira prendeu a respiração. O refeitório silenciou como se alguém tivesse desligado o mundo. Mia congelou. Leo arregalou os olhos. Lívia empalideceu de pura raiva. E Bryan… Bryan virou devagar. Os olhos dele encontraram os de Mia — e o que ela viu ali fez tudo dentro dela gelar. Era fúria. Fúria crua, viva, assassina. Um aviso mudo, cortante: “Se você responder… vai se arrepender.” O ar entre eles tremeu. O poder dele pulsou no ambiente como um trovão prestes a cair. Ninguém respirava. Mia sentiu Mika dentro dela se curvar como se tivesse visto um predador maior que todos os outros juntos. O mundo inteiro pareceu parar. E ali, entre o convite indecente de Axel e o olhar brutal de Bryan, Mia percebeu que estava presa no meio de uma guerra que ela nunca pediu pra participar.






