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Capítulo 5 – Antes do Despertar

A tarde, o sol já alto no céu dourava os muros de pedra e vidro da Instituição Academia Lupina de Formação, um espaço sagrado e respeitado em toda a Alcateia Blackwolf. Ali, todos os jovens lobos, sem exceção, passavam anos de treinamento para aprender disciplina, honra e o verdadeiro significado de servir à matilha.

Nos campos abertos, o som de passos firmes, gritos de comando e impactos secos ecoava pelo ar. Jovens guerreiros praticavam combate corpo a corpo, espadas de treino tilintavam sob a luz, enquanto outros se dedicavam ao tiro com arco, à corrida e ao desenvolvimento da resistência. Era o coração pulsante da nova geração de lobos.

Mia, mesmo sem ter despertado seu lobo, fora chamada para treinar contra Sabine Bishop, uma jovem loba conhecida pela arrogância e língua afiada. Sabine nunca perdeu a oportunidade de provocar Mia, e o olhar dela, afiado como lâmina, já anunciava que aquele combate seria mais que apenas um exercício.

Um dos monitores, de postura rígida e voz firme, ergueu a mão chamando os primeiros nomes:

— Mia Ashworth e Sabine Bishop, para o primeiro treino de combate! — anunciou, e todos os olhares se voltaram para o centro da arena.

Mia sentiu um frio na espinha, mas manteve a postura ereta. Ela caminhou até o círculo demarcado, sentindo cada passo como se ecoasse pelo chão, amplificando a própria ansiedade. Sabine já estava lá, sorrindo com uma confiança quase cruel. Cada gesto de sua postura transmitia superioridade: braços cruzados, ombros relaxados, o olhar fixo em Mia como se estivesse estudando sua presa.

— Você será minha oponente? — zombou Sabine, ajeitando os cabelos. — Ah, esqueci… você ainda é uma humana frágil, não é? Será que vai aguentar levar umas porradas, bem na frente do seu namorado? — Sabine provocava. — Vamos ver se ele vai te achar tão especial assim quando eu te quebrar toda.

O sangue subiu às faces de Mia, mas ela respirou fundo, tentando manter o controle. Ainda assim, quando o treino começou, cada golpe que recebia vinha carregado de deboche e desprezo. O coração dela batia forte, muito mais rápido do que deveria. O corpo formigava de um jeito quase doloroso.

O ar dentro da arena parecia mais pesado, carregado de expectativa. O som dos pés contra a areia do chão ecoava como batidas de tambor, ritmando a tensão crescente.

Mia suava, a respiração acelerada queimando sua garganta, mas seus olhos permaneciam fixos em Sabine Bishop. A rival avançava com velocidade e confiança, seus movimentos já imbuídos da força de um lobo desperto. Mas Mia, mesmo sem ter sentido ainda sua transição, se movia com seriedade e destreza, desviando, bloqueando, girando o corpo com reflexos quase instintivos. Cada músculo seu parecia vibrar de energia contida, como se algo dentro dela pedisse para ser liberado.

Sua testa franzida, o maxilar cerrado, o corpo arqueado pronto para o ataque — Mia não era mais apenas uma adolescente em treinamento. Havia algo nela, algo que a fazia sobressair mesmo contra uma oponente mais preparada.

Enquanto isso, do outro lado da arena, outro monitor chamou:

— Bryan Blackwolf e Henry Blackwolf, primeiro combate de treinamento!

No seu lado da arena Bryan Blackwolf era um espetáculo à parte.

Sem camisa, o corpo jovem já moldado em músculos definidos reluzia de suor sob a luz que entrava pelos vitrais. Seus movimentos eram rápidos, precisos, calculados. Cada golpe contra Henry era um choque de força e técnica, cada esquiva, um lembrete de por que ele era sempre o melhor. A respiração compassada, o olhar firme — Bryan lutava como quem nascera para liderar.

Até que aconteceu.

Quando Sabine tentou desferir um golpe mais forte, Mia, em puro reflexo, agarrou o braço da rival e girou o corpo. O impacto foi acompanhado por uma explosão de energia invisível, uma onda que atravessou toda a arena.

O som foi como o de um trovão seco. Sabine foi arremessada com violência, seu corpo voando metros pelo ar antes de cair pesadamente do outro lado.

Mas o mais impressionante não foi a queda.

No exato ponto em que Mia havia cravado o pé no chão para lançar o golpe, a terra se rachou, formando fissuras profundas que se espalhavam como cicatrizes negras pela arena. O pó subiu no ar, os estilhaços de pedra se espalharam, e o campo de treino jamais seria o mesmo.

Um silêncio absoluto tomou conta do espaço.

Olhos arregalados, bocas entreabertas. Ninguém respirava.

E então, quase como se respondesse àquele fenômeno, Bryan, do outro lado da arena, liberou a mesma energia bruta em seu corpo. Num golpe certeiro contra Henry, o ar explodiu novamente, e o primo caiu com estrondo, inconsciente.

Dois pontos diferentes.

Duas explosões idênticas.

Um destino único.

O campo inteiro entrou em alvoroço, os jovens murmuravam assustados, os instrutores não sabiam como reagir. Era impossível ignorar: algo extraordinário havia acontecido, algo que não deveria ser possível. Não na idade que ambos tinham.

Dois pontos de explosão.

Dois jovens, lado a lado no destino.

Skyler e Gustavo trocaram olhares, uma mistura de espanto e reconhecimento. Eles sabiam que jamais tinham visto algo assim — nem mesmo com treino intenso e anos de prática.

O suor escorria pelas peles de Mia e Bryan, os olhos deles brilhavam de algo que ninguém conseguia nomear — poder, ancestralidade, destino.

E os pupilos ao redor, mesmo experientes, sentiam-se pequenos diante da força emergente diante deles.

A multidão de jovens e instrutores levantou-se em alvoroço. Sussurros se espalhavam, olhos arregalados acompanhavam Mia e Bryan, que ofegavam, sem entender o que havia acontecido.

Vega Nightfall, a diretora, chega às pressas, seguida pelos curadores, Joyce Salazar a enfermeira, e Rafael Blackwolf o médico.

— Levem todos para a enfermaria, imediatamente! — ordenou Vega, sua voz firme mesmo diante do caos.

Sabine, Henry, Mia e Bryan foram conduzidos para dentro, os olhares da alcateia cravados neles como se fossem segredos recém-revelados. O ar estava carregado de algo novo, algo ancestral. Era como se, naquele dia, o destino tivesse se manifestado diante de todos.

Dentro da enfermaria, o ar era pesado, impregnado de adrenalina e surpresa. Mia e Bryan sentaram-se em cadeiras próximas, ainda ofegantes, com o corpo vibrando de energia que eles mesmos mal compreendiam. Rafael Blackwolf passou cuidadosamente os dedos sobre os pulsos e ombros de cada um, a testa franzida em concentração.

— Nenhum dano físico aparente… mas o corpo de vocês reagiu a algo que ultrapassa qualquer treinamento que já vimos — disse Rafael, em voz baixa, para que apenas os presentes ouvissem.

Joyce Salazar ajustava os curativos leves e conferia sinais vitais, enquanto Vega Nightfall, a diretora da Instituição Lupina, permanecia de braços cruzados, estudando cada movimento de Mia e Bryan com olhos aguçados.

— Isso… — Vega começou, a voz baixa, quase um sussurro — é o despertar de algo muito antigo. Algo que não deveria acontecer assim tão cedo.

Mia fechou os olhos, tentando acalmar o formigamento que corria pelo corpo. Bryan colocou a mão sobre a dela, transmitindo firmeza e segurança.

— Está tudo bem, baby… — murmurou ele, os olhos fixos nos dela. — Vamos entender isso juntos.

Fora da enfermaria, os jovens lobos observavam com reverência e medo contido, comentando em sussurros:

— Foi como se o chão tivesse explodido de energia…

— Nunca vi alguém com tanto poder — disse um deles, os olhos ainda brilhando de assombro.

No canto da sala, Sabine cruzava os braços, visivelmente irritada, e Henry apenas olhava para o chão, incapaz de processar a intensidade do que acabara de acontecer.

O silêncio que se seguiu foi pesado, cheio de expectativa. Todos sabiam que nada seria igual dali em diante — e que Mia, especialmente, estava destinada a algo muito maior do que qualquer um poderia imaginar.

Mia e Bryan permaneceram algum tempo na enfermaria, embora nenhum dos dois tivesse sido realmente atingido. O jovem médico Rafael Blackwolf, irmão mais velho de Bryan, examinava cada um dos envolvidos com precisão cirúrgica, verificando respiração, batimentos, possíveis contusões e qualquer sinal de dano invisível. Nem Sabine Bishop nem Henry Blackwolf haviam sofrido ferimentos graves, mas a expressão atônita no rosto de todos deixava claro que ninguém esperava a intensidade da força que Mia e Bryan haviam liberado.

Quando finalmente saíram da enfermaria, encontraram seus amigos esperando do lado de fora, cercando-os imediatamente. A energia do grupo era elétrica.

— Cara, isso foi insano! — exclamou Ares Mykonos, um dos melhores amigos de Bryan, os olhos ainda brilhando de entusiasmo.

— Pareceu uma fusão estilo super gêmeos! — brincou Felipe Guerra, gesticulando de forma cômica, Felipe era outro amigo próximo, conhecido pelo jeito irreverente. Alguns ao redor riram da comparação, mas a tensão ainda pairava no ar.

Chloe Ashowrth, irmã mais velha de Mia, estava junto das amigas, observando atentamente. Seus olhos se suavizaram ao ver Mia ilesa:

— Você está bem? — perguntou, preocupação misturada com curiosidade.

Sabine, que se mantinha perto, bufou alto, visivelmente irritada com a situação:

— Ela está bem? Eu que quase fui enterrada no concreto! — reclamou, revirando os olhos e cruzando os braços. — Isso não é justo!

Mia manteve a postura calma, mas um pequeno sorriso divertido escapou de seus lábios, quase imperceptível. Ela sabia que aquele poder dentro de si tinha acabado de ser despertado, e que a vida de todos ali jamais seria a mesma. Bryan, ao seu lado, passou o braço protetor por suas costas, observando os amigos, a família e rivais, e a determinação brilhava em seus olhos.

A atmosfera estava carregada de eletricidade, de antecipação e de medo contido — ninguém sabia exatamente o que acabara de acontecer, mas todos sentiram que presenciaram algo extraordinário.

Algo estava com certeza acontecendo, algo que não era para acontecer… não agora… não tão cedo.

Os olhares se cruzavam de todos ainda carregados de incredulidade e respeito contido. Até os instrutores, Skyler Starlight e Gustavo Blackwolf, permaneciam parados alguns passos atrás, avaliando cada detalhe com atenção. Skyler franziu a testa, os braços cruzados:

— Isso não foi apenas força, foi… energia concentrada. — Murmurou, quase para si mesma, mas o suficiente para que os outros ouvissem.

Gustavo assentiu, a mandíbula cerrada.

— Exatamente. Nunca vi nada assim de lobos tão jovens. Precisamos observar isso de perto antes que algo saia do controle.

Bryan apertou levemente a mão de Mia, sentindo o formigamento ainda pulsando dela.

— Está sentindo isso também? — perguntou, baixinho, preocupado, mas tentando transmitir segurança.

— Sim… — Mia respondeu, a voz calma, mas os olhos revelando a mesma inquietação que percorria seu corpo desde o treino. — Mas eu não sei o que é… ainda não consigo controlar.

Rafael Blackwolf saiu de dentro da enfermaria e lançou um olhar rápido e sério:

— Ambos precisam descansar. Não houve ferimentos graves, mas o corpo reagiu a algo que não consigo explicar completamente.

Enquanto o grupo se dispersava, o murmúrio entre os amigos aumentava: sussurros sobre “poder oculto”, “força sobrenatural” e “o despertar do lobo precoce” percorriam o ar, aumentando a aura de mistério ao redor de Mia.

Ela respirou fundo, sentindo a energia pulsar em suas veias, misto de medo e excitação. Algo dentro dela havia mudado — e o mundo à sua volta jamais seria o mesmo.

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