“O apagamento deixa bordas.” — (Dra. Iasmim)
A sala da Dra. Iasmim tem cheiro de álcool e papel novo — aquele aroma clínico que, na teoria, deveria trazer conforto, mas meu corpo já associa a uma sensação de escavação, de dor administrada com cuidado.
O gravador pisca em vermelho no canto da mesa, testemunha silenciosa e implacável. Meu reflexo distorcido no visor parece uma pessoa que olha uma poça d'água antes de atravessar, sem saber a profundidade ou se vai encontrar chão firme do outro lado.
Ela se senta ao meu lado — nunca na frente, sempre respeitando essa distância invisível que estabelecemos desde a primeira sessão — e sua voz chega baixa, modulada com a precisão de quem sabe o peso que cada palavra carrega:
— Quando o corpo disser que é hora de parar, você volta. Sem heroísmo, sem forçar a passagem. Palavra de interrupção?
— Cedro.
A palavra sai automática, mas minha garganta aperta ao pronunciá-la. Cedro. Minha âncora. Minha saída de emergência. É a corda que me puxa de vol