“Antes de me chamarem por outras bocas, fui apenas eu.” — (Anotação de R.)
A voz da Dra. Iasmim ficou longe, como quem fecha a porta devagar para eu ouvir o que estava do outro. Minha mente, livre, começou a vagar.
Primeiro, o frio me envolveu. Não era o frio de um inverno rigoroso, mas o frio áspero de um chão de cimento cru.
O orfanato tinha um cheiro que nunca me abandonou, mesmo quando eu me abandonei: uma mistura agridoce de sabão barato, feijão requentado e pano úmido esquecido na corda.
O som dos passos ali era sempre maior que nós mesmos, um eco que parecia zombar da nossa pequenez.
As crianças aprendiam a caminhar como sombras, sem ruído; eu, por minha vez, aprendi a esconder nomes dentro da boca, como se fossem segredos que o mundo não tinha o direito de roubar.
— Qual é o seu nome? — perguntavam, às vezes por mera formalidade, outras vezes com uma doçura que parecia querer me guardar.
— Renata — eu dizia, e, por um instante, era como se o universo inteiro se comprimisse den