“Às vezes, desistir é um disfarce para continuar sem plateia.” — Diário de R.
A convocação de Dayse chegou por mensagem às cinco da tarde: “Equipe, hoje ninguém fala de trabalho. Bar com karaokê às 20h. Ordem médica.”
Eu fui. Calça preta, batom que fantasma respeita, não nega guerra nem pede desculpa.
O bar tinha aquela alma cansada que São Paulo abraça por teimosia: microfone com estática, palco que já viu glória e esqueceu, neon piscando mensagens em código morse. Era o tipo de lugar onde executivos fingem ser gente comum e gente comum finge ser feliz.
Joana cantou uma música dos anos 80 completamente desafinada e riu de si mesma com uma alegria que me lembrou por que gosto dela.
Rafael se posicionou estrategicamente próximo à parede, aquela postura dele que vigia e protege ao mesmo tempo.
Matheo tentou me convencer a subir no palco ― gargalhei e fugi para a pista de dança, onde podia observar todos os ângulos sem parecer paranoica.
Dayse cantou por último. A voz dela me surpreendeu