“Tudo que move é sagrado / E remove as montanhas com todo cuidado...”
🎵 Trilha sonora: “Amor de Índio” — Beto Guedes
A luz do hospital entrou lentamente no quarto, como se hesitasse em revelar o que o amanhecer trazia. Dayse despertou, mas não de imediato; sua consciência emergiu aos poucos, como alguém que sobe à superfície de um lago profundo.
O corpo, ainda frágil e os batimentos acelerados ecoavam em seus ouvidos, sincronizados com o som monótono do monitor ao lado. Aquele bip constante era um lembrete impiedoso: ela estava viva, mas e o bebê? Ainda estava com ela?
Seus dedos, trêmulos e hesitantes, deslizaram até o ventre. O toque era quase reverente.
O cheiro estéril do hospital impregnava o ar, uma mistura de desinfetante e algo indefinível que parecia grudar na pele. Seus olhos arderam, mas as lágrimas não vieram. Não havia espaço para chorar. Não agora. A exaustão era um peso esmagador, mas algo mais forte a mantinha alerta: o instinto. Ela sabia que não podia relaxar. Não