Na adega, envolto pelo frio das paredes de pedra e pelo cheiro doce do carvalho antigo, liguei para os detetives. Clara tinha razão desde o começo. Eu era mais do que aquela fome de vingança que me consumia. E, acima de tudo, sabia que Beatriz precisava de ajuda; nada nos surtos dela era normal.
— Não façam nada contra ela — pedi, a voz firme. — Continuem procurando. Quando encontrarem, apenas acionem a polícia.
Houve um silêncio breve do outro lado, antes do detetive concordar, ainda sem entender o motivo da minha mudança de coração.
Desliguei e voltei para a sala. Entreguei as garrafas de vinho a Hélène, que preparava a mesa com a precisão carinhosa de quem conhece cada detalhe da casa. Subi para o quarto.
E parei no batente.
Clara estava pronta.
O vestido dela, um longo de seda champagne, abraçava o corpo com uma elegância quase silenciosa. O decote em V, suave, revelava sem expor. A cintura marcada valorizava a leve curva da barriga, enquanto o tecido fluía até o chão como água em