Mundo ficciónIniciar sesiónO carro ainda parado, o tráfego ao redor continuava seu ritmo frenético. Eu, no entanto, estava parado em minha própria realidade, consumido por pensamentos sobre Clara. Como ela se move, como fala, como ignora, como resiste. Cada detalhe dela estava gravado na minha mente, desde o leve toque na lapela do terno até o modo como ela mantinha o olhar firme, mas sem se entregar.
A fúria, agora transformada em combustível, tornou-se uma força criativa, uma urgência silenciosa de planejar o próximo passo. Eu não podia esperar que o destino nos aproximasse novamente. Eu faria acontecer. Eu obrigaria Clara a reconhecer que ela não poderia mais me tratar como apenas mais um cliente. E assim, parado no meio da Quinta Avenida, com o vento frio batendo contra o carro e a cidade pulsando ao redor, senti pela primeira vez em muito tempo uma excitação real, intensa e perigosa. Clara havia me desafiado. E eu, Lorenzo Bianchi, nunca deixo um desafio sem resposta. A mensagem dela não diminuiu meu desejo; só aumentou. Cada palavra curta, cada ponto final, cada desafio silencioso era combustível para a obsessão que começava a tomar conta de mim. E eu sabia, com absoluta certeza, que aquele jogo estava apenas começando. Os dias passaram rápido, mas meu pensamento não saía de Clara. Cada detalhe dela parecia insistir na minha mente — o jeito firme de se portar, o olhar que escondia algo mais profundo. Entre reuniões e decisões de negócios, decidi que não podia mais adiar: iria até a loja. Ao chegar, fui direto ao ponto. — Quero ser atendido por Clara — disse, sem rodeios. Ela surgiu alguns segundos depois, com aquele jeito contido e sério que eu já conhecia. Havia um certo desconforto no ar, talvez pela mensagem que eu enviara dias atrás, talvez pelo mistério que sempre me cercava. Enquanto ela organizava alguns documentos, decidi arriscar. — Gostaria de convidá-la para jantar hoje, às 8 — falei, simples, direto. Ela me olhou surpresa, quase hesitando: — Senhor… não nos conhecemos, e… o senhor Matteo não gosta que conversemos com clientes sobre assuntos que não sejam relacionados à loja. Sorri, com um leve toque de provocação: — Eu sou Lorenzo, brasileiro, e percebi que você também é. O olhar dela mudou, um misto de surpresa e curiosidade. — E como percebeu? — perguntou, tentando disfarçar o interesse. — Não importa — respondi, com a voz firme. — Apenas aceite como um jantar entre amigos. Por alguns segundos, houve um silêncio carregado. Ela analisava cada gesto meu, cada nuance do meu tom. Finalmente, esboçou um pequeno sorriso, quase imperceptível. — Está bem… eu aceito. — Onde posso pegá-la? — perguntei, mantendo o controle da situação. — Te mando por mensagem — respondeu, ainda com aquele jeito elegante e reservado que a tornava irresistível. Saí da loja sentindo todos os olhares sobre mim, mas sem ligar. Para mim, nada importava além daquele encontro. Cheguei ao hotel onde estava hospedado, um lugar discreto e luxuoso, perfeito para o meu tempo escasso em Nova York. No quarto, organizei rapidamente os documentos, liguei o notebook e revisei algumas pendências de negócios. Mas minha mente não parava de voltar para Clara. Havia algo nela que desafiava meu controle, algo que me fazia querer quebrar todas as minhas próprias regras. E aquele jantar… prometia ser apenas o começo. Terminei de responder o último e-mail no escritório em Nova York. A cidade lá fora continuava viva, mas meu foco estava nas últimas pendências do dia. Com tudo em ordem, me levantei, pronto para ir ao hotel me arrumar para o jantar. Enquanto me dirigia para o carro, meu telefone vibrou. Era uma mensagem de Clara: "Lorenzo, posso ser pega às 20h. Moro na 142 Maple Street, apartamento 3B, um prédio simples, fachada de tijolos vermelhos com pequenas janelas de vidro fosco e uma porta azul gasta pelo tempo." Sorri com a simplicidade do lugar. Não precisava de luxo para ser interessante — e isso já dizia muito sobre ela. No horário combinado, estacionei em frente ao prédio. Assim que desci do carro, vi Clara saindo pela porta do apartamento. Ela usava um vestido azul escuro, elegante na medida certa, que realçava sua silhueta sem exageros. Seus saltos pretos a faziam caminhar com graça, e os cabelos ruivos estavam presos em um penteado sofisticado, mas que combinava perfeitamente com sua personalidade. Um leve perfume a envolvia, discreto, marcante. — Boa noite, Clara — disse, abrindo a porta para ela entrar. Ela sorriu timidamente e entrou, e eu fechei a porta atrás de nós antes de seguir para o carro. Durante o trajeto até o restaurante, puxei conversa, deixando o clima leve. Falamos de pequenos detalhes do dia, do trânsito da cidade, de lembranças simples. Cada palavra sua parecia ter um charme natural que me mantinha atento a cada gesto, cada olhar. O restaurante que escolhi era luxuoso: pé-direito alto, lustres de cristal refletindo luz suave sobre mesas com toalhas brancas impecáveis. Candelabros e velas tremeluzindo criavam um clima intimista, enquanto obras de arte discretas nas paredes davam ao ambiente um toque de exclusividade. Um pianista dedilhava notas baixas ao fundo, tornando o jantar ainda mais envolvente. Sentamos em uma mesa no canto, com vista parcial da cidade iluminada. Durante o jantar, Clara se mostrou atenta, mas também curiosa. Entre uma conversa e outra, ela deixou escapar, sem perceber a vulnerabilidade de sua voz: — Eu moro com uma amiga… dividimos as despesas. Um detalhe simples, mas que dizia muito sobre quem ela era. E, naquele momento, percebi que ela realmente não sabia nada sobre mim. Nada do meu mundo, do meu nome completo, da minha vida de luxo e poder. Era apenas ela, eu e aquele instante suspenso. Quando a sobremesa chegou e nossos olhares se encontraram novamente, não resisti. Aproximei-me lentamente, coloquei a mão em sua cintura e toquei seus lábios com os meus. Um beijo demorado, cheio de conexão, carregado de intensidade silenciosa. Ela correspondeu com delicadeza, mas havia fogo naquele gesto contido. Cada segundo parecia prolongar o tempo, e, por um instante, nada mais importava.






