A casa estava silenciosa demais, o tipo de silêncio que parece ecoar em cada canto, se infiltrando nos meus pensamentos. Eu passei pela sala, onde as sombras da noite já começavam a tomar conta, e encontrei Isabella no sofá, com os olhos cansados e a expressão fechada. Ela estava tão quieta, tão distante. Eu sabia que ela estava processando tudo o que aconteceu, mas ainda assim me doía vê-la assim. Eu não sou a mãe dela, nunca fui, mas eu me importava, de um jeito complicado, confuso. Sentei ao lado dela, tentando não invadir seu espaço, mas sentindo a necessidade de me aproximar, de oferecer algum tipo de conforto. Ela me olhou por um instante, seus olhos grandes e tristes, e então desviou o olhar, focando na televisão desligada à sua frente. Eu não sabia como falar com ela. Como consolar uma criança que viu sua vida ser virada de cabeça para baixo, que perdeu a mãe de uma forma tão cruel. — Isabella... — minha voz soou suave, mas tremia um pouco, como se eu estivesse tentando enco
A raiva me corroía por dentro. Eu saí do quarto e fechei a porta com força, sem me importar se ele ia atrás de mim. Não foi. Claro que não. Matteo era orgulhoso demais pra isso. Ele tomava decisões como se fosse um rei, como se todos nós fôssemos apenas peças no tabuleiro dele. E Isabella… Isabella era só mais uma peça a ser reposicionada quando conveniente. Desci as escadas com o coração acelerado. Minha cabeça martelava com pensamentos desorganizados. Internato? Aquela menina precisava de amor, de cuidado, não de ser jogada em um lugar frio e distante. Que tipo de homem acha que luto se resolve com disciplina? Mas ele não entendia. Porque Matteo nunca perdeu ninguém da forma que Isabella perdeu. Porque Matteo era um homem criado na violência, moldado na guerra e na máfia, endurecido por perdas que ele nunca soube sentir. A dor dele era engolida a seco, nunca compartilhada. E era exatamente isso que ele queria ensinar pra filha: engolir a dor e se calar. E eu? Eu estava no me
Eu não gosto de ser desafiado.E muito menos dentro da minha própria casa.Muito menos pela minha mulher. Desde que tudo começou com Isabella, eu venho tentando manter a porra da razão. Tentando controlar a tempestade que cresce dentro de mim, engolindo minha sanidade aos poucos.Mas Angeline?Ela está forçando a barra. Recebi uma ligação do Giovanni no meio da tarde.Só o fato dele me ligar para falar de Isabella já acendeu o alerta.Mas foi quando ele começou com aquele tom de quem tenta me “fazer entender” que eu soube.Angeline meteu ele nessa história. — Você tem ideia do que está fazendo, Matteo? — perguntou Giovanni, com a voz firme, mas não desrespeitosa. — Tô fazendo o que precisa ser feito. Isabella precisa de disciplina, não de mimos. — O que ela precisa é de você, porra. De presença. De pai. E Angeline… ela tá tentando manter a porra toda de pé enquanto você vira as costas. — Não me fode, Giovanni. Você sabe como essas coisas funcionam. Emoção demais só enfraquece.
— Vem, Angie! Pula comigo! — Isabella gritou, com as mãozinhas erguidas e um sorriso que iluminava o rosto inteiro. Ajeitei a parte de cima do biquíni, talvez um pouco justo demais, mas era o meu preferido, e pulei na água. O choque gelado foi revigorante, e a risada dela ecoando na piscina me fez esquecer, por alguns minutos, toda a tensão que vivíamos dentro daquela casa. — Você nada rapidinho! — ela disse, me abraçando. — Parece um tubarão! — Ei! Que falta de respeito com uma sereia profissional! — brinquei, apertando ela contra mim. Estávamos rindo, girando dentro da água, quando senti.O ar mudou. Ficou pesado. Carregado. Matteo. Me virei devagar e lá estava ele. Camisa social aberta, calça de alfaiataria, óculos escuros... e aquele olhar. Ciúmes.Puro, cru, possessivo. Ele me olhava como se eu tivesse cometido um crime. E o biquíni era a arma do delito. — Esse biquíni sempre foi assim… pequeno? — ele perguntou, sem rodeios, ignorando completamente o fato de Isabella est
Ela me provoca. Mesmo sem querer, sem saber, ela me tira do eixo. Angeline brincando com Isabella parecia uma cena de comercial de família feliz. E talvez fosse... se eu não fosse o desgraçado que carrega sangue nas mãos e tem o inferno tatuado no peito. Mas ver aquele biquíni colado no corpo dela...Ver os sorrisos...Ouvir as risadas suaves...Me deixou cego. Porque aquele corpo é meu. Aquela boca que sorri é a mesma que geme meu nome com lágrimas nos olhos. E eu não aceito dividir nenhum pedaço dela com o mundo. Não sou homem de meias medidas. Eu tomo. Eu possuo. E se precisar destruir pra proteger o que é meu, eu destruo. Angeline precisa entender isso. Precisa aceitar que estar comigo significa abrir mão da liberdade. Significa obediência, entrega total. Sem exceções. Eu a assisti dormir depois do sexo. Com a pele marcada pelos meus dedos, pelos meus dentes, pelo meu ciúme. E mesmo ali, linda, nua, entregue... ela ainda me deixava inquieto. Ela quer lutar. Acha que pode me
A mesa estava impecável. Os talheres alinhados com precisão, as taças brilhando sob a luz dourada do lustre e o cheiro do assado se espalhando pelo ambiente como uma falsa promessa de aconchego. Mas nada disfarçava o peso no ar. Ou talvez fosse só dentro de mim que tudo parecia prestes a desmoronar. Verônica, sempre elegante, servia a salada com um sorriso que misturava educação com superioridade. — Isabella, querida, pegue um pouco de legumes. Vai te fazer bem. — disse, com aquela doçura forçada. — Eu quero só o arroz e o frango. — respondeu Isabella, com sua sinceridade infantil. A risada de Alessandra preencheu o ambiente. — Essa menina é fogo. — comentou a avó, olhando para mim. Mas eu apenas sorri. Isabella estava ao meu lado, alegre, alheia às sutilezas afiadas daquela mesa. Sofia, do outro lado, me observava com os olhos estreitos, sempre tentando decifrar meus pensamentos. Giovanni mastigava devagar, como se saboreasse não só a comida, mas o clima contido. Matteo, claro,
O sol ainda nem tinha dado as caras direito quando senti a cama afundar do meu lado. Os lençóis estavam quentes, meu corpo exausto da noite anterior, e mesmo assim… ele queria mais. Matteo sempre queria mais. — Acorda, amore mio. — a voz dele veio baixa, rouca, daquele jeito que sempre fazia meu corpo responder antes mesmo de eu pensar. — Matteo… — murmurei, virando o rosto no travesseiro, tentando negar o óbvio — Estou dolorida. — Melhor. — ele sussurrou, beijando minha nuca, uma das mãos deslizando por debaixo do meu corpo, já procurando o que queria. — Dor significa que teu corpo lembra quem manda nele. Suspirei, dividida entre a raiva e o prazer. Ele não esperava resposta, não pedia permissão. E depois da decisão dele na noite passada, tudo em mim gritava “foge”, enquanto a outra metade implorava por mais dele. — Não precisa ser agora… — tentei de novo, mais pela hora do que por vontade. — A gente nem tomou café… Ele riu, aquele riso grave, debochado e cheio de certeza. A mã
Filippo estava demais. Confiante demais, calmo demais… eu não gostava de homem assim. Quando o sujeito parece santo, é porque tá escondendo o diabo. Chamei dois dos meus homens de confiança. Gente que não falha, não pergunta, não aparece. — Sigam Filippo. Vinte e quatro horas por dia. Quero relatório até do que ele sonha. E ele não pode desconfiar de nada. — Sim, senhor. — disseram em uníssono, antes de desaparecerem como sombras. Entrei no escritório e encontrei Giovanni sentado com aquele copo de whisky dele, como sempre. Me olhou e sorriu, daquele jeito de quem acha que já sabe demais. — Está com cara de quem mandou matar alguém. — Ainda não. — respondi seco, sentando de frente pra ele. — Mas tem coisa mais séria. — Diz aí. — Quero um filho com Angeline. Giovanni parou de beber. Me encarou. O sorriso se manteve, mas os olhos denunciaram a surpresa. — Cazzo… — ele murmurou. — Você não queria nem ouvir falar disso. — Mudei de ideia. — dei de ombros. — Quero um herdeiro. Me