O tic-tac do relógio nunca me incomodou tanto.
Cada segundo ecoava no quarto silencioso, misturado ao bip constante do monitor de Giulia. O som era o mesmo desde o dia em que ela recebeu a medula da Isa. Estável. Calmo. Seguro.
Mas naquele fim de tarde, alguma coisa mudou.
Giulia dormia. Isabella cochilava na cama ao lado, ainda se recuperando do procedimento. Eu lia um livro qualquer, mas a cada três linhas meus olhos corriam para o monitor, depois para o rosto da minha filha. Era um ciclo involuntário. Instintivo. Como se meu corpo não soubesse mais viver em paz.
Até que o som mudou.
Foi sutil.
Um bip mais rápido. Um alerta fraco.
Meu corpo travou.
Levantei no mesmo segundo, os olhos vidrados nos números da tela. Frequência cardíaca em leve aceleração. Pressão mais baixa do que o normal. E então, o mais difícil: Giulia começou a gemer. Leve, mas contínuo.
— Giulia? — chamei, já puxando a cadeira ao lado da cama.
Ela não abriu os olhos. Mas se remexeu, o rostinho franzido de dor.
— E