O relógio marcava sete e quarenta da noite. Estávamos atrasados, ainda que ninguém além de mim soubesse disso.
Caminhei pela sala pela terceira vez, passei os dedos pelos cabelos, parei diante do espelho da entrada e ajeitei, mais uma vez, a manga da camisa. Azul marinho. Social, com o primeiro botão aberto. Nada muito formal, mas suficientemente elegante para não parecer despreparado. Ou era isso que eu esperava.
Suspirei.
Meu último encontro havia sido com a mulher que amei durante quase uma década. Lúcia. Ela usava um vestido verde-água e sorriu a noite inteira como se o mundo ainda fosse dela, mesmo com o corpo cansado pela doença. Eu, naquela época, fingia ser forte. Como um castelo de areia tentando enfrentar uma maré de dor. Ela se foi dias depois. E eu me afundei.
Desde então, não houve mais espaço para jantares à luz de velas, nem sorrisos nervosos antes de sair. Houve apenas o luto, o álcool, a solidão e, por fim, a batalha silenciosa para recomeçar.
E agora... agora havia Is