O som da chuva batendo nas janelas do meu duplex era quase terapêutico. Fazia tempo que eu não tinha um dia de folga, e, ironicamente, estava usando ele para... trabalhar.
Tinha acabado de desligar o telefone com a recrutadora.
— Sim, pode mandar a candidata aqui — eu dissera. — Prefiro fazer a entrevista em casa, minha filha ainda está se recuperando.
Falar de Clara sempre me fazia sentir um nó na garganta. Nos últimos dias, ela estava abatida, e eu não parava de pensar em como deixei a rotina tomar conta de tudo. A febre dela foi um lembrete doloroso de que dinheiro nenhum substitui presença.
— Senhor Rodolfo, o café está pronto — avisou Dona Lourdes, surgindo na porta do escritório. — E a menina ainda dorme.
— Ótimo — respondi. — Que ela descanse mais um pouco.
Ela saiu, e eu fiquei ali, organizando os papéis sobre a mesa, tentando colocar em ordem a mente e os relatórios. O apartamento estava em silêncio, só o som do relógio e o leve gotejar da chuva do lado de fora. Era um silênc