O dia tinha sido longo.
Daqueles que parecem uma sequência infinita de reuniões, relatórios e decisões que só eu podia tomar. Às vezes eu me perguntava se ser CEO significava “Carrega o Escritório Obrigatoriamente”, porque era exatamente isso que eu fazia — vivia dentro dele.
Quando o relógio marcou quase nove da noite, decidi que era hora de ir. Peguei o celular, desliguei o computador e saí do escritório com a mente pulsando de cansaço. Tudo o que eu queria era um banho rápido e, depois, encontrar a mulher que estava me esperando no flat.
Nada sério. Nunca era.
Desde que minha ex-esposa foi embora, eu tinha aprendido a dividir minha vida em compartimentos. Trabalho. Clara. Silêncio.
O flat no centro era o meu refúgio. Um espaço neutro, longe da casa em que minha filha dormia e da culpa que às vezes me acordava antes do amanhecer.
Entrei no elevador e encostei na parede, soltando o ar. Só então percebi que não estava sozinho.
Ela estava lá.
A vizinha do outro dia. A do cristal e do e